IPCA-15 abaixo do esperado não chega a animar o Santander
Apesar do resultado abaixo do esperado, a “foto” do IPCA-15 de abril continua “complicada”, com alívios “bem marginais”, diz Daniel Karp, economista do Santander. Ainda assim, ele afirma manter certa confiança de que, principalmente a partir de maio, esses alívios marginais podem “começar a aparecer mais” nas leituras dos índices de preços.
A prévia da inflação de abril avançou 1,73%, abaixo do indicado pela mediana do Valor Data (1,82%) e da expectativa do Santander (1,9%).
“Continua tudo girando em nível muito alto. Não dá para dizer que é uma leitura boa. É uma foto bem desfavorável, mas há alguns pequenos alívios”, diz Karp.
Segundo ele, a surpresa mensal foi concentrada em dois itens. Um é a gasolina, que tinha surpreendido para cima na leitura anterior e agora devolveu parte disso. O outro foi o grupo de cuidados pessoais, que inclui produtos como perfume e tem demonstrado grande volatilidade, o que torna mais difícil ficar “muito animado” com a surpresa, pondera o economista.
Para acompanhar tendências em agrupamentos importantes, como bens industriais e serviços, Karp diz gostar de olhar a média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada. Por essa métrica, os bens industriais ficaram “um pouquinho melhor”, afirma. “Deu uma parada [de subir]. Não é uma super notícia, mas, pelo menos, não continua acelerando como vinha antes”, diz ele. “Até o núcleo de serviços, nessa medida específica, também não continuou acelerando.”
Na avaliação de Karp, o pico da inflação pode estar próximo. “Possivelmente, no IPCA-15, esse pode ter sido o pico. Teoricamente, em maio, já vamos ter uma variação em 12 meses um pouco menor do que agora”, afirma.
Karp diz que a perspectiva é de uma “desaceleração considerável” da inflação nos próximos dois meses, com o IPCA fechado de abril ficando em 0,92%, por exemplo. “Acho que daqui para frente devemos ver variações mensais menores, principalmente a partir de maio, o que deve justamente ajudar essa variação em 12 meses a ter um certo alívio”, afirma.
O problema mais à frente, diz ele, é o ritmo dessa desaceleração e qual será o IPCA no fim do ano. “Não é uma desaceleração super forte”, reconhece Karp. As projeções oficiais do Santander para a inflação em 2022 e 2023 estão em 7,9% e 4%, respectivamente, mas o viés é de alta, segundo o economista, com algo mais próximo de 8,3% e 4,2%, pela ordem.
O horizonte ficou um pouco mais turvo principalmente por causa do cenário externo, que inclui, por exemplo, o aperto monetário nos Estados Unidos e a piora da pandemia na China.
“Estava mais animado com essa parte de industriais por dois motivos. Em primeiro porque acho que estava começando a entrar um pouco o efeito [do corte] do IPI, já tínhamos alguns itens começando a, pelo menos, desacelerar as altas mensais. Em segundo porque tinha um câmbio que tinha apreciado bastante. Isso demora um pouco para chegar nos números da inflação, mas dava mais confiança de que esses aumentos iam começar a melhorar bem. Agora, com essa questão de fundo, embaralha um pouco”, diz Karp.
Segundo o economista, a equipe do Santander entende que o câmbio deve permanecer mais ao redor de R$ 5 por dólar ao fim de 2022. “O que assusta um pouco é a dinâmica dos últimos três, quatro dias. Foi um movimento muito rápido, sempre dá uma assustada de até onde pode ir. Mas a gente ainda está confiante de que vai ficar mais baixo do que já foi”, afirma.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe