Fundos de investimento têm captação recorde em 2021, liderada pela renda fixa
A crise de covid-19 ficou para trás na indústria de fundos de investimento brasileira. Em 2021, a indústria teve captação líquida (a entrada descontando a saída) de R$ 369 bilhões, maior valor da série histórica da Anbima, entidade que representa o mercado de capitais e de investimentos. A série começou em 2002. Foi uma alta de 106,3% ante 2020, ano em que os fundos foram fortemente impactados pela pandemia de coronavírus.
Assim, o patrimônio líquido da indústria atingiu R$ 6,9 trilhões em dezembro, avanço de 12,7% em comparação ao mesmo mês do ano anterior. O ano foi de retorno do investidor de varejo aos fundos de investimento. O segmento registrou captação líquida de R$ 121,2 bilhões em 2021, ante resgate líquido de R$ 75 bilhões em 2021. Esse dado é até novembro.
O ano ainda foi da renda fixa, que liderou as captações, enquanto os multimercados e fundos de ações perderam ritmo, com os resgates concentrados no segundo semestre. O saldo da renda fixa também foi o maior da série histórica. O fluxo acompanhou o ciclo de aumento da Selic, a taxa básica de juros, que saiu de 2% em janeiro para 9,25% ao ano em dezembro.
A renda fixa registrou captação líquida de R$ 215,2 bilhões em 2021, enquanto os multimercados tiveram saldo positivo de R$ 59,6 bilhões e os fundos de ações, captação líquida de apenas R$ 200 milhões.
Com a expectativa de que a Selic chegue a 11,5% no final, conforme as previsões do Boletim Focus do Banco Central, essa migração para a renda fixa tende a continuar. Além do retorno, a liquidez e a segurança devem atrair os investidores em ano de eleições. Contudo, analistas afirmam que bons gestores de multimercados e ações devem conseguir aproveitar oportunidades do ambiente volátil que se desenha para o ano e dar bons resultados no longo prazo.
A maior parte do dinheiro da renda fixa ainda está em fundos de renda fixa simples. Entretanto, as carteiras com crédito privado podem dar os retornos mais elevados.
A renda fixa também alcançou a maior participação no patrimônio líquido da indústria de fundos de investimentos. Eles encerraram 2021 com uma fatia de 37,1%, ante 36,1% em 2020. Os fundos multimercados e os de ações perderam representatividade no bolo. As parcelas deles caíram de parcelas de 23,3% para 22,8% e de 10,1% para 8,4%, respectivamente.
Pedro Rudge, diretor da Anbima, entende que esse fluxo para a renda fica não é um retrocesso da diversificação aprendida pelos investidores nos últimos anos, mas sim um movimento racional. “Dado que a renda fixa ficou mais atrativa e o risco percebido da renda variável aumentou, acho que é muito mais uma realocação tática do que uma alteração estrutural. Não acho que é uma mudança de direção”, afirma.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe