A economia mundial entrará em recessão? Quando? Economistas do mundo respondem
Ao menos quatro problemas diferentes, mas imponentes, perseguem a economia mundial enquanto ela se recupera da pandemia de covid-19: as perspectivas de crescimento da China foram prejudicadas pelos rígidos “lockdowns” para conter um surto da variante ômicron do coronavírus; o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) corre o risco de transformar uma forte expansão econômica nos EUA em colapso; as famílias da Europa enfrentam uma crise do custo de vida; e a situação é pior em muitos países emergentes mais pobres, onde há sinais de crises alimentares e até de fome. Não surpreende que o clima esteja ficando sombrio.
Os mercados financeiros estão assustados. O índice de ações MSCI World Index caiu mais de 1,5% na semana passada, mais de 5% em maio e mais de 18% desde o pico alcançado no começo de janeiro. Dhaval Joshi, estrategista-chefe da BCA Research, observa que além de um período intenso para as ações, houve uma liquidação nos bônus, nos bônus indexados à inflação, nos metais industriais, ouro e criptoativos.
“A última vez que o alinhamento estelar do ‘tudo em queda’ ocorreu foi no começo de 1981, quando o Fed de Paul Volcker quebrou a espinha da inflação e transformou uma estagflação em uma recessão total”, diz Joshi.
Segundo Robin Brooks, economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), a confluência desses choques sugere que a economia mundial já está com problemas. “Enfrentamos outra ameaça de recessão no momento, só que desta vez acreditamos que ela é real”, diz ele.
O que está por trás da ideia de recessão?
Definir uma recessão mundial não é uma tarefa fácil. Para países individuais, os economistas definem uma “recessão técnica” como dois trimestres consecutivos de contração do PIB. O “Financial Times” prefere uma definição mais flexível, assim como os Estados Unidos, onde o National Bureau of Economic Research (NBER) define uma recessão como “um declínio significativo da atividade econômica que se espalha pela economia e dura mais do que uns poucos meses”.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial preferem caracterizar uma recessão mundial como um ano em que o cidadão médio global experimenta uma queda real na renda. Eles destacam 1975, 1982, 1991, 2009 e 2020 como as datas das cinco recessões mundiais anteriores.
As previsões de crescimento global para 2022 ainda parecem distantes dessa definição, mas vêm minguando. Em abril o FMI previa um crescimento anual de 3,6% para este ano — esse número considera tanto a recuperação no segundo semestre de 2021, quanto as expectativas para 2022. Mas quando o FMI analisa o crescimento que espera ao longo de 2022, a entidade já reduziu sua previsão de 4,5% em outubro do ano passado, para 2,5% em abril.
Brooks avalia que as notícias desde que essa previsão foi anunciada são suficientemente ruins para reduzir a projeção de crescimento para apenas 0,5% em 2022, menos que o aumento esperado da população.
Riscos de recessão aumentam no ano que vem, aponta consultoria
Jerome Powell, o presidente do Fed, foi bem claro na semana passada ao afirmar que o banco central continuará subindo as taxas de juros até ver evidências “claras e convincentes” de que a inflação está retornando para a meta de 2%. Ele não está preocupado com a possibilidade do desemprego aumentar “alguns pontos” a partir do atual nível de 3,6%.
Do outro lado do Atlântico, as novas previsões da Comissão Europeia, divulgadas na semana passada, apontam uma drástica redução na estimativa de crescimento e elevação na perspectiva de inflação, que implicam na estagnação no segundo trimestre deste ano. A Comissão acredita que a economia superará esse período difícil e retomará um ritmo crescimento razoável de cerca de 0,5% por trimestre na metade do ano, mas muitos economistas do setor privado acreditam que o golpe na renda das famílias terá efeitos mais duradouros.
Fonte: Valor Investe