4E RADAR MAI/2022
Cenário Internacional
EUA – Na taxa anualizada livre de influências sazonais, o PIB do 1º tri de 2022 contraiu-se 1,4%, ante a um crescimento de 6,9% no último trimestre de 2021.
O encolhimento foi impulsionado por quedas na reposição de estoques (-0,8 p.p.), na exportação líquida de bens e serviços (-3,2 p.p.) e nos gastos do governo (-0,5 p,p,). Já os gastos com consumo e investimento fixo saltaram 2,7% e 2,3%, respectivamente.
UE – No bloco europeu o PIB da Área do Euro cresceu 0,3% no primeiro trimestre – ante a um avanço de 0,2% no primeiro cálculo lançado em abril.
O PIB da União Europeia – grupo que engloba países fora da coalização monetária – dilatou-se 0,4% O resultado coloca o produto do bloco
em um nível 5,1% (5,2%) superior ao verificado no primeiro trimestre de 2021.
Cenário Político
Datafolha: finalizado em 23 de março, Lula (PT) aparece com 30% das intenções de voto, contra 23% de Jair Bolsonaro para o primeiro turno. No último levantamento do instituto Lula aparecia com 32% das intenções de voto e Bolsonaro com 18%. No segundo turno, Lula aparece com 55% das intenções e Jair Bolsonaro com 34%. A diferença entre os dois candidatos caiu quase 9 pontos.
A concentração de votos em Lula e Bolsonaro indicam que a polarização é o fenômeno a caracterizar o pleito, a despeito dos esforços tardios do que se chama “terceira via”, a insistência de Ciro Gomes e os rumores da volta de Moro ao embate. Em médias móveis de seis pesquisas, a soma dos votos em Lula e Bolsonaro no primeiro turno sobe de 68% em janeiro para 75% no estudo mais recente de maio.
Bolsonaro tem se tornado mais competitivo nos cenários de primeiro turno, subindo com base em aspectos atrelados às políticas sociais, uso tradicional da máquina por ocupantes do Planalto e pela saída de Sérgio Moro. Tais fenômenos eram esperados. Mas Bolsonaro ainda é seu principal adversário. Para além de cerca de 50% de rejeição ao seu governo, que ele tem tentado arrefecer, o presidente tem médias móveis de rejeição (seis pesquisas), que ficam entre 57% (janeiro) e 54% no dado mais recente, com Lula entre 40% (janeiro) e 43% atualmente.
Diante das críticas de Bolsonaro ao Judiciário, presidentes das casas parlamentares têm dado sinais de que não concordam com adicalismos. Entidades em Minas Gerais entregam ao STF documento de defesa da democracia. A questão central é que o mesmo Legislativo que condena a intensidade do Planalto, se mantém associado a ele no que diz respeito a recursos orçamentários estratégicos à reeleição de parlamentares.
PIB
Revisamos nossa projeção para o PIB de 2022 de 0,6% para 0,9%, em resposta ao panorama doméstico mais favorável e de 1,5% para
1,4% em 2023 devido à deterioração das condições no contexto internacional.
A produção industrial cresceu pelo segundo mês consecutivo, tendo variado 0,3% em março – na série livre de influências sazonais. Mesmo com o resultado positivo, continuamos antevendo cenário desafiador para as manufaturas, corolário da depreciação no poder de compra das famílias e das pressões sobre os custos de produção – oriundos do encarecimento da eletricidade, combustíveis, e da manutenção do esarranjo nas cadeias globais de abastecimento.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) voltou a subir depois de oito recuos consecutivos, terminando abril em 97,4 pontos na série com ajuste sazonal. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) cresceu 3,8 pontos no mesmo período, alcançando 78,6 – também para os valores livres de influências sazonais.
PIB Regional
O resultado do PIB Regional no trimestre móvel finalizado em fevereiro/2022 – considerando a série dessazonalizada – trouxe destaques positivos para 18 Ufs.
Na ponta positiva, a região Centro-Oeste obteve destaque diante das restantes, ao apresentar um crescimento de 3,3%. Tal movimento é explicado, em grande medida, pelo forte desempenho da Agropecuária (5,2%), somado a resultados positivos no setor de Serviços e Indústria.
A região Norte apresentou crescimento de 1,6% no período, com destaque para a recuperação da Indústria de Transformação amazonense (6,6%).
Com significativa alta na Agropecuária (2,6%), o Sudeste foi a segunda região a apresentar o maior crescimento (1,1%) neste trimestre móvel.
A região Sul (-1,3%) foi a única que apresentou retração da sua atividade econômica durante o período avaliado.
Mercado de Trabalho
A taxa de desocupação encerrou o primeiro trimestre do ano em 11,1% – estável em relação aos três meses encerrados em dezembro e abaixo da mediana das expectativas coletadas pela Agência Estado, estimada em 11,4%.
Prospectivamente, diante do processo de retomada econômica e normalização das condições sanitárias, esperamos que a taxa de desocupação permaneça relativamente estável ao longo do ano. O movimento refletirá, além da recuperação de serviços, a recomposição de trabalhadores à força de trabalho.
O CAGED reportou, em março, a abertura líquida de 136 mil postos, efeito de cerca de 1,9 milhões de admissões e 1,8 milhões de demissões. A série com ajuste sazonal indica crescimento do mercado formal de trabalho no período, com a geração de 244 mil vagas, ante a 213 mil no mês imediatamente anterior.
Inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 1,06% em abril, frente a alta de 1,62% no mês anterior. Com este resultado, o indicador já acumula alta de 4,29% no ano.
Julgamos que no acumulado em 12 meses, abril marca o pico do IPCA (12,13%), sem descartar, todavia, a possibilidade de novas deteriorações no quadro inflacionário – especialmente caso seja anunciado novo reajuste generalizado sobre combustíveis pela Petrobras.
O IGP-M avançou 1,41% em abril. Com este resultado, o indicador acumula alta de 14,66% em 12 meses.
Acreditamos que o IGP-M tende a começar a arrefecer nos próximos meses, espelhando principalmente a dissipação dos efeitos sazonais sobre os alimentos, e certa despressurização no valor das commodities, oriunda do arrefecimento da atividade chinesa.
Política Monetária
Em sua reunião de maio, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros para 12,75% ao ano.
Prospectivamente, esperamos nova alta de 0,5 p. p. na próxima reunião, de forma que a taxa Selic encerre o ciclo de aperto monetário em
13,25% ao ano.
Em relação ao cenário internacional, o Comitê avalia que o ambiente seguiu se deteriorando em virtude das pressões inflacionárias intensificadas com a guerra na Ucrânia e com o choque de oferta advindo da nova onda de Covid-19 na China. Além disso, a reorientação das
expectativas em relação a política monetária nos países avançados ampliou a incerteza e a volatilidade, particularmente nos emergentes.
Domesticamente, o Comitê observa que os preços continuaram surpreendendo negativamente, com diversas medidas de inflação subjacente situandose acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta inflacionária.
Política Fiscal
Em março, o setor público consolidado reportou um superávit primário de R$ 4,3 bilhões. Com o resultado, o setor público acumulou um superávit na ordem de 1,4% do PIB nos doze meses encerrados no terceiro mês de 2022.
A dívida líquida do setor público em relação ao PIB, por sua vez, encerrou março em 58,2% do PIB, valor equivalente a R$ 5,1 trilhões. Já a dívida bruta do governo geral fechou o mês em 78,5%.
Por fim, ressaltamos que o panorama fiscal positivo reflete, sobretudo, o bom desempenho das contas dos estados e municípios que, em março, acumularam um superávit de R$ 11,8 bilhões. O movimento se deve, pela ótica das receitas, a um avanço no recolhimento de tributos na esteira da retomada da atividade e ao efeito da disparada dos preços de combustíveis na arrecadação dos entes regionais, além da inflação.
Taxa de Câmbio
O Real encerrou 2021 em patamares historicamente depreciados – que não respondiam aos fundamentos de médio e longo prazo – mantidos por um cenário político incerto, apesar de um quadro fiscal conjunturalmente bom. Nos primeiros meses de 2022, a moeda brasileira recobrou parte do seu valor, refletindo o diferencial de juros ante as economias desenvolvidas.
Esperamos que a moeda brasileira espelhe, ainda este ano, o risco eleitoral. Com o encerramento do pleito, acreditamos que o Real recobre sua trajetória de apreciação ao final do ano.
Para o médio e longo prazo, antevemos um real relativamente estável em um patamar historicamente depreciado, embora em menor nível ante ao biênio 2020/2021. Esperamos que o movimento reflita um pior quadro fiscal e seja contrabalanceado, ao mesmo tempo, pelo diferencial entre os juros brasileiro e norte-americano.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: 4E Consultoria