Num ano turbulento, as estreias na bolsa estão longe de ter sido só alegria ao investidor
O ano de 2021 tem sido marcado pela alta volatilidade na bolsa de valores. No entanto, isso não espantou as estreantes. Ao todo, foram 44 empresas que passaram a negociar suas ações na B3 (ou seja, fizeram o famoso IPO, da sigla em inglês “Initial Public Offering”). Porém, deste total, menos da metade ganha do Ibovespa.
O desempenho do principal índice da bolsa no ano também deixa a desejar: até o dia 3 de novembro, ele acumulava perdas de aproximadamente 13%. Portanto, o investidor que colocou R$ 1 mil nele no começo do ano, teria agora aproximadamente R$ 870. Isso evidencia, no entanto, o quanto o desempenho das empresas que fizeram IPO no ano deixou a desejar.
Segundo um levantamento feito pelo Valor Data com base nos dados da B3, apenas 18 das 44 companhias que estrearam na bolsa em 2021 ganham da variação registrada pelo Ibovespa no período desde o IPO até o dia 3 de novembro. Dessas, apenas 11 têm valorização desde que começaram a ser negociadas. As outras sete até ganham do Ibovespa (ou menos piores), mas têm perdas desde que estrearam.
As 26 empresas restantes registraram não só uma variação negativa no ano como também perdem do Ibovespa na comparação do índice no intervalo entre o IPO e o dia 3 de novembro. Ou seja, caso um investidor optasse por apostar em uma dessas companhias ao invés de aplicar seu dinheiro no Ibovespa, ele teria ainda perdido mais dinheiro.
Caso esse investidor optasse por investir em todas as empresas estreantes na bolsa neste ano, ele teria perdido 3,05%, segundo cálculos do Valor Data. O levantamento considerou um peso igual para cada ação e a entrada desde o IPO de cada uma. Porém, cálculos do Valor Data mostraram que se o investidor optasse por aplicar no Ibovespa, as perdas seriam ainda piores: de 10,02%, considerando que o investimento tenha sido feito no dia 22 de janeiro, data do primeiro IPO do ano.
Por que a maioria caiu?
Embora cada empresa represente um caso específico que justifica seu sucesso naquele intervalo ou não, Miguel Vieira, líder de fusões e aquisições da Peers Consulting, destaca que 2021 tem sido um ano particularmente complicado. Isso porque o mercado ainda lida com muitas incertezas, que trazem mais volatilidade para a bolsa (o famoso “sobe e desce”). E quando os investidores se sentem inseguros, eles tendem a se desfazer de papéis que não estão consolidados na bolsa.
“O que a gente tem hoje é um cenário de crescimento econômico que está incerto. Até para o ano que vem, o PIB não está tão claro. Como as empresas que fazem IPO são companhias com menor capital e maior risco, são as primeiras que as pessoas, tanto físicas quanto jurídicas, tiram de suas carteiras. Nesses momentos, os investidores preferem preservar patrimônio em empresas mais seguras e melhores pagadoras de dividendos”, explica.
O especialista explica que normalmente as empresas que fazem IPO são menores e estão levantando dinheiro para conseguir se expandir, já que não têm um caixa robusto para investir tanto em crescimento. Por isso elas se apresentam como companhias mais arriscadas do que aquelas que já estão na bolsa há muito tempo.
Casos de sucesso ainda têm espaço para ganhos
Até o dia 3 de novembro, as cinco maiores “campeãs” entre as novatas na bolsa foram a Vamos, Intelbras, Boa Safra, GPS e Armac, todas com altas superiores a 30%. E, segundo corretoras e casas de análise, todas elas ainda têm espaço para subir mais.
A empresa de locação de caminhão Vamos subiu 85,8% desde seu IPO, feito em janeiro deste ano, até o dia 4 de outubro. E em relatório divulgado no dia 3 de novembro, a XP Investimentos reiterou sua visão positiva a respeito da empresa.
Na avaliação da corretora, a empresa se destaca por estar em um mercado ainda pouco explorado no Brasil e ter uma posição de liderança que a permite ter vantagens competitivas, além de um modelo de negócios resiliente, já que os contratos são de longo prazo. Devido a essas características, a empresa deve continuar reportando bons resultados e, por isso, suas ações podem continuar em alta, mesmo já tendo quase dobrado de valor.
A Intelbras, que aparece na sequência com uma alta de 75,8% até o dia 3 de novembro, também segue bem vista pelas corretoras. A empresa produz e comercializa produtos e soluções de segurança eletrônica, controles de acesso, redes, comunicação, energia.
Após a companhia anunciar em agosto um acordo de colaboração com a Qualicomm para licenciar sua tecnologia 5G, casas de análise e corretoras reforçaram suas avaliações positivas para a empresa. A Guide Investimentos, por exemplo, afirmou que o anúncio era positivo para a empresa, que poderá ofertar tecnologia inovadora e ainda com exclusividade na América Latina.