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Novos títulos do Tesouro são populares entre mais velhos e têm crescimento abaixo do esperado

Em 2023, o Tesouro Direto anunciou dois novos títulos com o objetivo de popularizar o investimento: o RendA+, criado sob medida para quem quer complementar a aposentadoria; e o Educa+, com o objetivo de ajudar familiares a custearem a educação de crianças e adolescentes com antecedência. O primeiro, lançado em janeiro deste ano, no entanto, não deve atingir o número de adesões esperado pela Secretaria do Tesouro Nacional até o final do ano. O segundo, mais novo, lançado há quase três meses, ainda tenta responder dúvidas dos investidores. Nos dois casos, o principal desafio é conquistar as classes mais baixas.

Mas, apesar dos percalços, as duas novas modalidades têm números expressivos em estoquesRendA+ já soma mais de R$ 1 bilhão de janeiro a agosto. Já o Educa+ tem mais de R$ 31 milhões investidos no período que vai de agosto, quando foi lançado, a setembroAmbos têm investimento mínimo de R$ 30. Os dados são do Tesouro Nacional e da B3.

O Tesouro RendA+ tem remuneração semelhante à do Tesouro IPCA+, corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e com pagamento de amortizações em parcelas mensais iguais, também corrigidas pelo IPCA. A principal diferença é no prazo de vencimento, que no caso do novato chama-se prazo de conversão. Ou seja, ao contrário do título tradicional, no qual o dinheiro pinga de uma vez só na conta bancária do investidor, no RendA+ o investidor recebe 240 vencimentos mensais ao longo de 20 anos, sempre no dia 15.

No caso do Tesouro Educa+, o cálculo é semelhante ao título pensado para a previdência. A diferença é que os pagamentos das amortizações, também corrigidas pela inflação, duram cinco anos (ou 60 meses) a partir de uma determinada data escolhida pelos responsáveis no momento da compra do papel. Na prática, o Educa+ cria um fluxo financeiro e o investidor acumula títulos até o filho entrar na faculdade e começar a receber os frutos desse investimento.

Balanço

Nos primeiros nove meses à venda, o Tesouro RendA+ atraiu mais de 60 mil investidores com valor médio de aplicação de R$ 3,6 mil, a maioria deles entre os 40 e 59 anos (62%), ou seja, o público mais próximo de deixar o mercado de trabalho. Em estoque, a modalidade soma mais de R$ 1,2 bilhão no período.

Se mantiver o ritmo até o final do ano, o título vai acumular pouco mais de 90 mil investidores, valor bem abaixo dos três milhões esperados para 2023, conforme foi projetado pelo Tesouro Nacional quando o papel foi lançado, em janeiro deste ano.

O ticket médio do título no mês de lançamento era de R$ 8.930. Conforme foi se popularizando, o público do RendA+ foi ampliado e o valor de aportes por clientes caiu, chegando a R$ 3.647 em agosto. O movimento indica que uma parcela maior de investidores pequenos e médios tem se utilizado do investimento. Esse é, inclusive, o público alvo do produto, que foi formatado principalmente para os trabalhadores autônomos com faixa de renda de até seis salários mínimos – apesar de poder ser adquirido por qualquer pessoa.

Prova de que os investidores que mais investem no RendA+ têm pressa para receber o benefício, é que o título mais comprado até aqui é o de curto prazo — apesar do produto ter sido desenhado para uma aposentadoria que só será aproveitada em décadas. O maior volume de aportes (R$ 438 milhões) foi em papéis que começam a pagar benefícios daqui a sete anos, em 2030, representando 36% do total vendido.

“Quando a gente vê pessoas mais próximas da aposentadoria investindo significativamente no produto, quer dizer que há um descasamento entre o que o produto é desenhado para fazer e o que está acontecendo. A ideia do título é que pessoas mais jovens conseguissem investir valores pequenos de forma recorrente para, lá na frente, ter uma aposentadoria complementar interessante. Mas isso não chega a ser alarmante”, comenta o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pierre Oberson.

Em seguida, está o título com prazo de conversão para 2035, ainda na linha do curto prazo. O papel tem R$ 223 milhões em estoque (18%). Completa o ranking de queridinhos o título com vencimento em 2040, com R$ 150 milhões em estoque, ou 13% do total.

“Ainda não está conseguindo se criar um comportamento de investimento de longo prazo, de quem pretende colocar dinheiro aos poucos e lá na frente vai recuperar esse valor, mas é importante ver que as pessoas estão investindo”.

Dentro das faixas etárias, a segunda que mais compra os títulos pensando na aposentadoria é entre os 20 e 39 anos, que corresponde a 22% do público do Tesouro RendA+. Em seguida, está o público com mais de 60 anos (13%), que conta com o benefício no curtíssimo prazo. Os mais novos, de 0 a 17 e de 18 a 24 anos, correspondem a 0,92% e 1,14%, respectivamente.

No recorte por gênero, 65% dos títulos foram adquiridos por homens e 34% por mulheres, números semelhantes aos que são encontrados nas outras modalidades de títulos públicos. Entre os homens, o volume de negociação passa dos R$ 77 milhões.

Também chama a atenção o volume de vendas de títulos do RendA+ em relação ao total vendido pelo Tesouro Direto no período. Até aqui, o programa representou apenas 0,35% das negociações totais do Tesouro.

“A gente viu que nos três primeiros meses do produto houve um crescimento das negociações por investidor. A partir de abril, a quantidade de investidores começa a cair um pouco, o que a gente pode considerar como o início de uma estabilidade. Agora temos em torno de quatro mil novos investidores a cada mês [no RendA+]. A gente sabe que tem um potencial ainda muito grande, olhando o tamanho do Tesouro Direto, mas é um trabalho que vai crescendo aos poucos”, destaca Oberson.

Para ele, a frequência do investimento é o ponto mais positivo dos números, porque significa que os investidores estão tendo uma política de recorrência e muita disciplina. “Investiram bastante no início e continuaram fazendo aportes. A ideia é colocar um pouco todo mês e lá na frente ter uma montante interessante para complementar a aposentadoria”.

Mais modesto

O Tesouro Educa+, lançado em agosto, é a nova aposta da Secretaria do Tesouro Nacional para complementar o financiamento educacional de crianças e adolescentes no futuro. Quando as negociações foram iniciadas, o secretário Rogério Ceron antecipou que novas funcionalidades estavam previstas para o papel, a fim de ampliar a adesão e popularizar o investimento.

No primeiro mês em operação, ainda sem novas ferramentas, o Educa+ fidelizou 10 mil investidores e somou estoque de R$ 31 milhões. O ticket médio é de R$ 2,8 mil por aplicação, ou seja, quanto cada investidor está aportando por mês mais ou menos. E, assim como seu antecessor, os mais velhos são os mais interessados no título até aqui (53%).

Desse número total de investidores, os homens são maioria, representando 68% dos compradores do título.

Os prazos de conversão preferidos dos investidores são dos títulos mais curtosO papel com vencimento em 2030 tem R$ 11 milhões em estoque, representando 36% do total acumulado pelo Educa+ em dois meses em operação. Conforme os prazos de conversão vão se alongando, menor fica a quantidade de investimento. Exemplo disso é que o vencimento mais longo, para 2038, representa apenas 2% do total.

“Esse é um título que ainda precisa de alguns meses para se consolidar, para que atinja o público alvo com mais robustez e faça com que o investimento seja conhecido pelo público no geral. O grande desafio para o Tesouro é fazer com que a classe mais baixa pense a longo prazo”, diz o analista da Fundação Getúlio Vargas.

No início deste mês de outubro, o Tesouro Nacional anunciou duas novas funcionalidades. A primeira é que os pais e responsáveis das crianças podem criar uma campanha colaborativa no site do Tesouro Direto – a famosa “vaquinha”. Em seguida, é gerado um link para ser divulgado a amigos e familiares que podem escolher um valor de contribuição, a ser pago via Pix, e auxiliar a financiar coletivamente o futuro da criança cadastrada.

A segunda é a possibilidade de abertura de conta em nome do menor de idade dentro do Tesouro Direto através do cadastro rápido (Cad&Pag) que promete facilitar o registro de novos investidores no programa. Ele integra os sistemas do Tesouro Direto, do Gov.br e das instituições financeiras em um processo unificado.

Mas, na prática, não é tão simples assim, já que nem todos os bancos participam do processo. Ainda é necessário criar uma conta para menores em um banco que já permita a aplicação direta no Educa+Na plataforma do Tesouro ainda não é possível fazer todo o trâmite de forma direta.

Por: Cris Almeida

Fonte: Valor Investe

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