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Mercado aumenta aposta em tom mais duro do Banco Central na decisão do Copom

Mesmo com o alívio observado no mercado de câmbio desde a reunião de março do Copom, as expectativas de inflação do mercado continuaram a se deteriorar no período diante da alta nos preços de commodities

Às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o mercado de juros embarca em uma aposta de que um tom mais duro será adotado pela autoridade monetária amanhã. Desde ontem, as taxas futuras exibem alta firme, em um movimento que se espalhou adicionalmente para a curva de juro real, com abertura forte das taxas das NTN-Bs, além de fatores técnicos que ajudaram no viés de alta exibido pelas taxas.

Mesmo com o alívio observado no mercado de câmbio desde a reunião de março do Copom, as expectativas de inflação do mercado continuaram a se deteriorar no período diante da alta nos preços de commodities. Vale observar que, no Boletim Focus, a mediana das estimativas dos economistas de mercado para a inflação em 2022 já supera o centro da meta, mesmo que marginalmente, e o viés é de alta, já que, considerando apenas os analistas que modificaram suas projeções na semana passada, o nível já está em 3,69%.

Da última reunião do Copom até agora, tanto o IPCA de março quanto o IPCA-15 de abril vieram abaixo do consenso do mercado. No entanto, os economistas da Bahia Asset Management apontam que “os sinais da desorganização setorial com estoques baixos continuam, de forma que acreditamos que boa parte dessa surpresa se deve à piora da pandemia e diminuição da mobilidade, mas é difícil conseguir separar os efeitos neste momento”.

No mercado, a leitura de pressões inflacionárias contínuas no curto prazo ganhou ainda mais força após a Aneel decidir implementar a bandeira vermelha nível 1 em maio. Ontem, os juros futuros de curto prazo permaneceram em alta firme ao longo de todo o pregão, em um movimento que tem continuidade hoje. Após encerrar abril em 6,25%, a taxa do DI para janeiro de 2023 já está em torno de 6,50% com apenas dois pregões no mês de maio.

Com a inflação mais pressionada e a possibilidade de as expectativas inflacionárias de médio prazo desancorarem, tem crescido no mercado a aposta de um Copom mais “hawkish”. Essa visão ganhou ainda mais fôlego diante da aposta de que o Copom pode retirar a indicação de que a normalização monetária em curso será parcial, e não completa. Os economistas do J.P. Morgan, do ASA Investments e do Itaú Unibanco são alguns dos que acreditam que o colegiado irá retirar essa menção no comunicado de amanhã.

Além disso, no momento em que a curva de juros precifica uma Selic em torno de 6,25% no fim deste ano, diversas instituições também projetam que o juro básico pode encerrar 2021 em 6% ou mais. “A Selic terminal deve ser próxima a 6%. Consequentemente, não vemos um grande prêmio na curva de juros a partir de agora”, diz Denis Ferrari, gestor de juros e inflação da Kinea Investimentos em vídeo onde apresenta os resultados de abril.

A alta dos juros não se deu somente na curva nominal, mas também na curva de NTN-Bs, onde as taxas tiveram uma forte abertura. Ontem, inclusive, houve um desmonte de posições aplicadas em NTN-Bs, o que fez as taxas “explodirem”. A taxa da NTN-B para agosto de 2022 disparou de 1,40% na sexta-feira para 1,58% ontem; a da NTN-B para maio de 2023 subiu de 1,93% para 2,03%; e a da NTN-B para agosto de 2024 avançou de 2,72% para 2,79%.

A pressão do mercado por taxas maiores nas NTN-Bs foi vista no leilão desta terça-feira. Com uma oferta grande de papéis, o Tesouro Nacional colocou no mercado R$ 6,38 milhões em risco (dv01). Para efeito comparativo, no leilão de NTN-Bs da semana passada, o risco colocado no mercado somou R$ 4,27 milhões.

O fator mais importante a se notar no leilão, porém, não é a quantidade de risco colocada no mercado, mas o nível das taxas. Na venda de 1,5 milhão de NTN-Bs com vencimento em agosto de 2030, a taxa média da operação ficou em 4,0788%, superando, assim, o consenso do mercado, que apontava para a taxa entre 4,05% e 4,07%, de acordo com dados da Renascença. “O mercado continua a pressionar por taxas mais altas e o futuro desse movimento está na decisão do Copom”, afirma um profissional do mercado.

Fonte: Valor Investe

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