Guerra pode aproximar país de cadeias globais
O enfraquecimento da globalização, intensificado com a guerra na Ucrânia, abre uma janela para o Brasil reduzir o seu isolamento econômico e se conectar nas cadeias globais de produção de bens e serviços. Mas a oportunidade será perdida sem a abertura da economia e reformas econômicas abrangentes que tornem o Brasil mais atrativo para as multinacionais. A tese de que o conflito no Leste Europeu abre uma “oportunidade secular” para o Brasil foi levantada recentemente pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um evento no Tribunal de Contas da União (TCU). “O Brasil não se inseriu nas cadeias globais”, disse. “Agora, tem uma oportunidade com a redivisão de cadeias globais.”
Por questões geopolíticas, os Estados Unidos e a Europa Ocidental estariam inclinados a reduzir a sua dependência de insumos e produtos não só da Rússia, mas também da China. O Brasil, pelo menos na teoria, poderia se beneficiar, tanto pela proximidade geográfica quanto por pelos valores em comum, como a democracia. Campos diz que, para tanto, o país precisa estar “no lugar certo com as políticas certas”. Especialistas ouvidos pelo Valor dizem que, na realidade, a guerra é um novo capítulo do processo de “corrosão da globalização”, como definido pelo economista Adam Posen, do Instituto Peterson, um centro e estudos de Washington.
“O processo de desglobalização não é de agora”, afirma Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e senior fellow do Cebri, um centro de estudos sobre relações internacionais. É uma tendência que surgiu depois da crise financeira mundial de 2008, que atingiu a classe trabalhadora americana, levando-a questionar a desigualdade de renda provocada pela globalização.
Fonte: Valor Investe