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Finanças comportamentais & Investimentos ASG

As ciências comportamentais têm ganhado relevância nos últimos anos demonstrando como aspectos psicológicos, sociológicos, dentre outros influenciam a tomada de decisões econômicas. Esse conhecimento tem sido utilizado, inclusive, por governos, incluindo o brasileiro[1], para otimizar a implementação de políticas públicas e a criação de nudges[2].

Nas finanças comportamentais, subdisciplina da economia comportamental, o foco é estudar como os aspectos mencionados acima influenciam a tomada de decisão financeira, incluindo decisões de investimento. Já é sabido que os investidores nem sempre tomam a decisão que representam o melhor custo-benefício, visto que invariavelmente sofrem a influência das emoções e crenças quando da avaliação de riscos de um investimento.

Diante do conhecimento dos vieses cognitivos, responsáveis por influenciar o comportamento dos investidores, e aproveitando que no mês de abril comemoramos o Dia da Terra (22 de abril), é oportuno esclarecer como o uso de insights de ciências comportamentais pode ser usado para afetar positivamente o desenvolvimento sustentável.

De forma geral, a tomada de decisão de investimento é algo complexo para o cérebro humano. Isso porque é preciso avaliar no mínimo 3 variantes: liquidez, risco e rentabilidade. Segundo a economia comportamental, os humanos experimentam constantemente uma escassez de tempo, recursos, inteligência, energia e dinheiro[3], ou seja, tomar uma decisão de investimento 100% racional é uma tarefa árdua.

Dessa forma, os humanos acabam recorrendo às heurísticas e vieses como atalhos para simplificar a tomada de decisões de investimentos, o que nem sempre resulta em decisões informadas ou alinhadas às reais intenções do investidor.

Um exemplo disso é a relação entre a geração millennial e investimentos ASG[4]. Uma pesquisa de 2018 indicou que 87% dos millenials com alto patrimônio líquido considera o histórico de ASG (ESG)[5] da empresa antes de decidir se deve investir nela ou não. Outra pesquisa apontou que 90% dos millennials queriam adaptar seus investimentos aos seus valores.

Todavia, é importante lembrar que as pesquisas demonstram as intenções do investidor millennial. Mas a pergunta que um cientista comportamental faria é: essa intenção equivale à ação do investidor de fato? Será que os investidores estão agindo ativamente para investir em investimentos ESG?[6]

Como as ciências comportamentais defendem, existe uma lacuna enorme entre nossas intenções e nossas ações. A questão aqui gira em torno de um viés conhecido nas finanças comportamentais: o viés da inércia.

Num passado não muito distante os investidores americanos deixavam de optar por um melhor plano de previdência pelo simples fato de que, para escolher o melhor plano, eles deveriam ativamente pedir para trocar seu plano de previdência. Essa situação apenas mudou quando houve uma intervenção comportamental: a inscrição das pessoas no plano mais vantajoso passou a ser automática, sendo que aquele que não desejasse migrar de plano deveria ativamente pedir para ser excluído[7].

Voltando à questão de investimentos ASG: será que os investidores com objetivos declarados de considerar fatores ASD em suas decisões, irão efetivamente realizar escolhas de investimentos ASG? Será que a maneira que as informações ASG são apresentadas aos investidores (enquadramento) é clara o suficiente para simplificar o entendimento do risco-retorno pelos investidores? Por último, qual será a crença dominante dos investidores a respeito da rentabilidade dos investimentos ASG e o quanto o viés da confirmação[8] impede investidores de incluir aspectos ASG em sua tomada de decisão?

Essas perguntas precisam ser respondidas com a ajuda das finanças comportamentais para que se aumente o interesse em investimentos que financiem o desenvolvimento sustentável.

Fonte: CVM

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