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Fiagros, os fundos que podem virar as vedetes do agronegócio

setor agrícola é importante na economia brasileira. Apesar disso, existem poucas opções que refletem a atividade desse segmento no mercado financeiro

Vamos aos números. O PIB do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu 8,36%, no ano passado. Já o PIB nacional avançou 4,6%A participação do setor alcançou 27,4% no PIB do país, a maior desde 2004 (quando foi de 27,5%).

Ficou inspirado? Para pegar uma carona nesse desempenho do agro no país temos alguns caminhos à frente. A (ainda) novidade, que tem tudo para ser relevante em um curto espaço de tempo, são os Fiagros, Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. A carteira aproveita o sucesso dos FIIs, Fundos de Investimento Imobiliário. Trata-se de um instrumento de financiamento da cadeia produtiva do agronegócio e oferece boa rentabilidade.

Os fundos ainda são novidade porque começaram a ser negociados na B3 em agosto do ano passado. Portanto, com a categoria tendo menos de um ano de vida, existem hoje 24 Fiagros listados na B3, dos quais 13 já tem alguma negociação por investidores e volume registrado de captação de R$ 3,77 bilhõesJá se incluirmos outros seis fundos com ofertas públicas registradas, mas fora da B3, a captação potencial já alcança R$ 5,57 bilhões.

Ele nasceu para financiar o segmento, mas a regra permite outros tipos de ativos na carteira, como os imobiliários. Entre os ativos que compõem esses fundos estão imóveis rurais, participação em sociedades da cadeia produtiva, ativos financeiros relacionados como direitos creditórios e títulos de securitização, entre outros.

A primeira emissão de Fiagro foi em outubro de 2021. E houve tempo para que dez emissões no ano fossem feitas, de R$ 1,23 bilhão, de acordo com a consultoria FG/A. Enquanto que as 365 emissões de fundos imobiliários, que já são uma indústria antiga, de janeiro a dezembro de 2021, somaram R$ 52,2 bilhões.

Já neste ano (até fim de março) foram emitidos R$ 1,88 bilhão em sete emissões de Fiagros. Enquanto que, no mesmo período, nos fundos imobiliários foram R$ 2,4 bilhões em volume, em 27 emissões.

Estima-se que a indústria de fundos imobiliários hoje tenha um volume de aproximadamente R$ 170 bilhões, com mais de 300 fundos. Não é possível prever quantas emissões de fundo imobiliário ou Fiagro teremos no mercado até o final de 2022. Mas basta comparar o tamanho do PIB do segmento agro, com o da construção civil, para perceber que o potencial de crescimento é exponencial. E é natural pensar que a indústria de Fiagros pode ser maior do que a de FIIs”, indica Paulo Fleury, sócio da consultoria FG/A.

Outras opções no agronegócio

Entre as demais opções para se investir no agronegócio estão os Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs), títulos que oferecem a segurança da renda fixa e são lastreados em recebíveis, originados de negócios entre produtores rurais e terceiros, como financiamentos ou empréstimos relacionados à produção e comercialização, além de outras operações ligadas à produção agropecuária. Os rendimentos, que podem ser prefixados e pós-fixados, são isentos de Imposto de Renda para pessoa física.

Os CRAs financiam empreendimentos no agronegócio, ou seja, “emprestam” dinheiro a uma empresa do setor. Trata-se de uma alternativa que seduz, já que paga uma taxa de juros maior do que o Tesouro Direto. O ativo têm liquidez, pode ser negociado no mercado.

Ainda na onda da renda fixa, o investidor tem as LCAs, Letras de Crédito do Agronegócio. É importante ressaltar que não é um investimento que possa se fazer diretamente no agronegócio. O título é emitido por um banco. A LCA oferece vantagem ao investidor neste momento de juros altos, já que pode conseguir boa rentabilidade

Há também as ações de empresas do segmento agro listadas na bolsa. São papéis para todos os perfis, levando em conta as metas e a vontade de arriscar de cada investidor.

E o Fiagro começa a se destacar. E pensar que, no início, o mercado considerou que esses fundos já nasciam sem atrativos. É que o presidente Jair Bolsonaro havia vetado dois pontos imprescindíveis, que atrairiam recursos para esses novos ativos: a isenção de imposto de renda (IR) para o rendimento distribuído (dividendos) para pessoas físicas que investissem nos produtos, de forma análoga ao que ocorre com os fundos imobiliários; e o adiamento do recolhimento do IR sobre o ganho de capital apurado na integralização de bens no fundo, como de imóvel rural.

Mas o Congresso derrubou os vetos e fez com que o mercado respirasse aliviado. O consenso era de que o Fiagro só faria sentido por conta dos benefícios aos cotistas. E a isenção de imposto de renda é primordial para isso.

Na verdade, a legislação do Fiagro é uma “cópia” da lei dos fundos imobiliários. De acordo com Paulo Fleury, a lei foi promulgada antes de a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) fazer a instrução. E, enquanto isso não acontece, o mercado tenta encaixar os Fiagros na legislação de fundos imobiliários. Segundo ele, a única coisa que não deveria ser modificada é a isenção do imposto de renda.

A própria FG/A tem uma história interessante com o Fiagro. A empresa, que existe há 16 anos, focou nas operações de CRA ao longo de sua trajetória. E, quando o Fiagro nasceu, achou que fazia sentido montar o próprio fundo.

Ou seja, a consultoria, que nasceu em Ribeirão Preto, polo de cana-de-açúcar do interior de São Paulo, fez o caminho inverso de quem opera no setor, para atrair os investidores. Ela saiu do campo e veio para a Faria Lima, avenida da capital paulista conhecida por concentrar a sede de grandes empresas.

De janeiro até março, o fundo, que tem uma taxa de administração de 1,15% ao ano e taxa de performance de 10% sobre o que exceder 100% do DI, distribuiu em dividendos R$ 0,38, equivalente a 3,8%. A cota foi emitida a R$ 10 em janeiro. No último dia de março, estava em R$ 10,45, um aumento de 4,5%. Portanto, o retorno total do fundo, dividendos distribuídos, mais valorização da cota na B3, foi de 8,3% neste primeiro trimestre.

O patrimônio líquido é de R$ 91 milhões. E a consultoria se prepara para uma nova emissão. “O fundo é para investidores em geral, ou seja, não precisa ser qualificado nem profissional para investir”, diz Fleury.

David Camacho, sócio-fundador e gestor da Devant Asset, confirma o potencial dos Fiagros. Ele afirma que a consultoria tem recebido muita demanda, não só de bancos, com o objetivo de distribuir o ativo, mas também de empresários em busca de uma nova fonte de recursos. Camacho também compara os Fiagros aos fundos imobiliários. “O agro tem mais representatividade do que o imobiliário10% dos empregos brasileiros vêm do segmento. O setor gera empregos e os Fiagros podem ajudar muito no crescimento do país“, ressalta Camacho.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe

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