Entre o investidor e a rentabilidade está a escolha das melhores taxas
Há uma profusão de opções de investimentos à disposição de quem quer fazer render o seu dinheiro. Mas, junto com elas, vêm as dificuldades de entender as taxas e escolher o que trará mais retorno. Podemos até fazer uma comparação. Uma pessoa vai ao restaurante, abre o cardápio e não entende quais são os ingredientes que prometem uma grande experiência de sabor. Mas ela arrisca. Nem sempre, porém, a escolha é a melhor para o paladar – ou para o bolso.
Uma das maiores dificuldades é observar se, afinal, a taxa de administração de um fundo, por exemplo, assim como a de performance, cobradas pelos gestores, são razoáveis.
Primeiro é importante saber o que é uma e o que é a outra. A taxa de administração é um percentual anual que incide sobre todo montante investido, de forma que reduz diretamente a rentabilidade dele. Já a taxa de performance é cobrada, normalmente, a cada seis meses e incide sobre os rendimentos obtidos acima da meta estabelecida do fundo, conhecida como “benchmark”. O investidor só a paga caso a rentabilidade do fundo tenha sido superior à do índice de comparação (normalmente o CDI ou o Ibovespa). A comparação das taxas, no mercado, tão marcado pela competitividade, é imprescindível.
A premissa básica é de que o investidor vai pagar pela “cabeça pensante” do gestor. O modelo de remuneração do setor financeiro determina que, se o gestor ganhar dinheiro para o investidor, ambos ganham juntos, em razão da taxa de performance. Se perder, o gestor ganha menos, mas segue no “lucro”, porque cobra remuneração fixa pelo serviço, mesmo em caso de insucesso, que é a taxa de administração.
Vamos nos concentrar aqui nos fundos mais conhecidos: os de ações, multimercado, renda fixa e DI.
Marcelo d’Agosto, colunista do Valor Investe, fez um levantamento que mostra o “custo-benefício” dos fundos DI no Brasil nos últimos doze meses. Do total, 34% deles cobram uma taxa de 0,5% ao ano e tiveram rentabilidade de 6,71%; já 30% cobraram entre 0,5% e 1%, com ganho de 6,18% no período; 12% pagaram índice que ficou entre 1% e 1,5%, com rentabilidade de 5,47%; 15% arcaram com taxa de 1,5% a 2%, e tiveram ganho de 5,13%; e 9% pagaram taxa de 2% e registraram rentabilidade de 4,94%. Ou seja, como bem classificou d’Agosto, menos é mais.
Esses exemplos mostram bem a realidade que o investidor encontra no mercado. Os fundos DI, em tese, são todos muito parecidos, já que aplicam em títulos que acompanham a taxa Selic ou CDI. E por isso apresentam retornos muito similares. Portanto, as diferenças entre os ganhos vêm do quanto o gestor cobra de taxa de administração. Quanto maior for essa taxa, mais cai a rentabilidade.
Os gráficos mostram que o grupo que tem 6,71% de rentabilidade pagou uma taxa de 0,5%. Já o que registrou retorno de 4,94% teve taxa de até 2%. A diferença entre 6,71% e 4,94% é de 1,77 ponto percentual, explicada quase na totalidade pelo 1,5 ponto percentual da diferença entre as duas taxas de administração. Uma conta simples que comprova o quanto a taxa é importante.
Para os analistas, a taxa de administração do fundo DI, portanto, deve ser de menos de 1%. “O ideal é de que fossem realmente baixas, em torno de 0,3% ou 0,5%. Mas as gestoras oferecem os custos menores para quem tem volume grande de dinheiro para investir”, explica Rodrigo Assumpção, planejador financeiro da Planejar. “A pessoa física chega a pagar uma taxa de até 3%. Desta forma, é muito mais vantajoso optar pelo Tesouro Direto e comprar títulos pós-fixados (Tesouro Selic). Eles rendem a mesma coisa e fica bem mais vantajoso para o bolso”.
Segundo Assumpção, a forma de pensar vale também para fundos multimercados e de ações. O padrão do mercado, para ambas as destinações, é de 2% de taxa de administração e de 20% sobre o que exceder o referencial (CDI ou Ibovespa) para a taxa de performance. É preciso levar em conta, porém, que o custo mais alto nesses fundos mais sofisticados pode trazer um ganho que vale a pena.
“A dica é se apegar menos ao custo do fundo e mais ao histórico de longo prazo de gestor. O investidor hoje costuma olhar apenas o desempenho do último ano. O interessante seria observar o histórico de 10 ou até 20 anos. Se esse gestor apresentar um bom retorno, vale a pena pagar um índice um pouquinho mais salgado”, detalha Assumpção. A linha de pensamento é igual na hora de comparar a taxa de performance.
Falando ainda em alternativas aos fundos, caso a taxa não valha a pena: pode-se considerar os ETFs (Exchange Traded Funds) de renda fixa, que replicam índices de renda fixa e são negociados em bolsa. Ou seja, são renda fixa, mas negociados como renda variável e que cobram taxas de aproximadamente 0,25% ao ano.
“Vale sempre fazer uma pesquisa. Um caminho a ser considerado é o CDB (Certificado de Depósito Bancário), investimento de renda fixa que oferece rendimento de acordo com o período de aplicação. O investidor também não paga taxa de administração”, explica Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
João Daronco, analista da Suno Research, reforça a linha de pensamento. Para ele, se a gestora consegue gerar retorno, ou seja, oferecer ganho acima do referencial, é justo que pegue parte desse valor para si. “Este é o melhor dos cenários. Bom para dois lados, gestor e investidor, ambos ganham”, ressalta Daronco.
A escolha do gestor, com base numa pesquisa, é tão importante que pode ser interessante ter a ajuda de um planejador financeiro na tarefa. É possível encontrar, no mercado, uma pessoa que busca a melhor oportunidade para o investidor – não apenas replique o preço do fundo. “Trata-se de alguém que esteja pensando pelo investidor, observando a simetria de preço, a performance da meta e que saiba calcular o valor presente da empresa, por exemplo. Até porque se o fundo não performar, o gestor não vai levar a parte dele”, diz Sigrid Guimarães, sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial.
Pegadinha
O investidor que está se acostumando aos jargões do mercado precisa estar alerta e saber identificar uma “pegadinha”, como classifica Fabrizio Gueratto, financista do 1Bilhão Educação Financeira. Ele chama de “pegadinha”, o long biased. Segundo ele, trata-se de um fundo de ações “fantasiado” de fundo multimercado. E o benchmark dele não é Ibovespa, e sim o CDI. “Podemos dizer que é um grande absurdo do mercado”, diz Gueratto. “A taxa de performance do long biased pode ser de 20%, aproximadamente, em cima do CDI. E isso não faz sentido”. Se a carteira é praticamente um fundo de ações, o seu referencial deveria ser o que exceder o Ibovespa e não o CDI, que é um referencial de renda fixa.
Ele faz uma analogia para ficar claro. Se uma pessoa tem uma Ferrari, o objetivo dela deveria ser acompanhar o veículo, lado a lado, com outra Ferrari. Seria algo compatível. Mas, em uma competição com um Fusca, a Ferrari ganharia e o motorista ainda receberia um prêmio por isso. Ou seja, receberia por uma competição injusta.
“Nem todos deveriam cobrar pela taxa de performance, mas muitos fazem isso. O investidor precisa ficar esperto”. É sempre bom lembrar que a boa performance é comprovada quando bate o benchmark. Isso acontece quando o gestor se esforça, faz o trabalho dele. Se não há comprometimento, não merece os “louros da vitória”.
Gueratto recomenda que o investidor faça uma boa pesquisa antes de se decidir. E também que ele fale sempre com especialistas para conhecer termos e os meandros do mercado. A boa e velha planilha pode facilitar muito o caminho árduo do cotista. Se ficar em cima, o investidor entenderá a engrenagem e poderá, enfim, engordar a rentabilidade.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe