Em ata, Copom reforça novo ajuste da Selic de igual ou menor magnitude na próxima reunião
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central considerou na semana passada as hipóteses de sinalizar para a sua reunião de agosto a manutenção de juros altos por mais tempo ou de elevar a taxa Selic a um patamar mais elevado ao final do ciclo de aperto monetário.
“Dada a persistência dos choques recentes, o Comitê avaliou que somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante”, diz a ata da reunião da semana passada do Copom, divulgada nesta manhã, no trecho que detalha as discussões dos membros do colegiado sobre a indicação de passos futuros de política monetária. “O Comitê optou então, por sinalizar um novo ajuste de igual ou menor magnitude”, segue o documento.
Segundo a ata, essa estratégia foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos, ao mesmo tempo que reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário.
Já nos debates sobre a decisão da semana passada, o colegiado também concluiu que a dose de juros implícita no tamanho do ciclo de alta e o prolongamento do aperto monetário previstos pelo mercado no cenário de referência seriam insuficientes para cumprir a meta de inflação no horizonte relevante de política monetária.
“O Comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, diz a ata.
Dessa forma, afirma o documento, “a estratégia de convergência para o redor da meta exige uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante”.
A conclusão foi que uma nova alta de 0,5 ponto percentual, de 12,75% ao ano para 13,25% ao ano, era apropriada “frente a um ambiente de elevada incerteza e o estágio significativamente contracionista da política monetária, que, considerando suas defasagens, deve impactar a economia mais fortemente a partir do segundo semestre deste ano”.
Desaceleração global
O Copom ressaltou, ainda, que já antecipa uma desaceleração da atividade global nos próximos trimestres, “em função das tensões geopolíticas e do aperto na política monetária e nas condições financeiras em curso em diversas economias centrais”.
“O Comitê avalia que o cenário inflacionário global segue marcado por pressões inflacionárias advindas tanto de uma demanda por bens persistentemente alta, como de choques de oferta ligados à guerra na Ucrânia e à política chinesa de combate à covid-19”, afirmou a ata.
Para o Banco Central, políticas recentes que restringem o comércio de produtos agrícolas em países produtores de commodities, junto com efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, trazem um “risco adicional para as pressões inflacionárias globais”. Na visão do comitê, o cenário pode gerar consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas.
“O comitê avalia que a sincronia global no processo de retirada de estímulos introduz riscos adicionais aos mercados e pode potencializar seu impacto no cenário prospectivo”, pontuou. Nesse contexto de desaceleração global, o Copom avaliou que há possibilidade de reversão, ainda que parcial, do aumento dos preços de commodities internacionais em moeda local observado nos últimos trimestres.
Risco fiscal
Segundo o comitê, a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas que sustentem a demanda agregada podem trazer risco de alta para o cenário inflacionário.
O BC repetiu a avaliação publicada no comunicado de “as medidas tributárias em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária”.
Sobre atividade econômica doméstica, o Copom disse que os dados recentes, que levaram a uma revisão positiva para o crescimento em 2022, ainda refletem majoritariamente o processo de normalização da economia após a pandemia de covid-19. Essa dinâmica se dá, segundo o BC, pelo maior consumo de serviços, pela utilização do excesso de poupança e pelo estímulo fiscal transitório efetuado no primeiro semestre do ano.
“O Comitê avalia que a atividade deve desacelerar nos próximos trimestres quando os impactos defasados da política monetária se fizerem mais presentes”, reiterou.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe