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Copom sobe Selic a 10,75% ao ano, retomando 2 dígitos deixados em 2017

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu nesta quarta-feira (2) a meta para os juros básicos (Selic) em novo 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Sem surpresas, portanto, veio outra ajuste de mesma dose, como indicado há 42 dias.

A sequência atual de altas começou em março de 2021. No entanto, sem conseguir trazer a inflação para dentro da meta. Em 2021, quando o alvo era 3,75% ao ano, foi estilhaçado o teto de tolerância, de 5,25%, com a inflação em 12 meses batendo 10,06%. Em 2022, a meta está nos 3,5%, e o teto, em 5,00%. O mercado, que vai semana a semana puxa a régua para cima desde julho, com raras pausas para descanso, já projeta a alta do custo de vida medida pelo IPCA nos 5,38% ao longo deste ano.

Com os 10,75% ao ano alcançados neste noite, os juros básicos retomaram a casa dos dois dígitos abandonada pela última vez em julho de 2017.

Naqueles tempos, vale lembrar, o Brasil começava a tirar o pé da recessão, com o consumo devagar quase parando sob alto nível de desemprego. Adicionalmente a essa pressão natural de baixa nos preços, o teto de gastos acabava de ser erguido. Ao trazer mais previsibilidade e algum controle sobre a trajetória do endividamento público, a sensação de risco fiscal, então gritante, foi reduzida. O que, por sua vez, também permitia à Selic habitar patamares mais civilizados.

Mas, de lá para cá, como se sabe, muita água rolou. Veio uma pandemia. A partir de 2020, o mundo inteiro passou a lidar com descompasso inédito entre oferta e demanda. A retomada veloz das grandes economias, na base de incentivos fiscais, mantém a demanda no planeta em níveis muito acima do que os gargalos de produção ainda não superados poderiam suprir. E o resto é história.

Não bastasse a inflação importada, o Brasil é proficiente em caçar problema. Diante da necessidade de custear o socorro à população, nada de cortar ou remanejar despesas. A escolha foi espalhar diversos furos no teto de gastos até chegar na implosão total, no trimestre passado. Ante a perda de confiança na trajetória das contas públicas, o BC a pesou a mão tentando evitar pressões cambiais ainda mais fortes do que as já responsáveis por manter a inflação brasileira acima da média global.

Deu no que deu. Num ciclo de alta, conforme destacado pelo BC em seu comunicado, ainda com alguma lenha a ser queimada. Mas, nas próximas reuniões, será diminuído o passo.

O colegiado “antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”. Como justificativa, o Copom apontou que os efeitos das altas já praticadas ainda “se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, ou seja, entre 2022 e 2023.

Não significa, no entanto, que a linha de chegada dos juros esteja necessariamente mais próxima. Simplesmente, pode ser alcançada com prazo maior, a depender do andamento dos fatos nos próximos meses. A exemplo do comunicado anterior, o BC manteve sua disposição em avançar com a Selic “significativamente em território contracionista”. Faz algumas semanas, boa parte dos gestores entendia que esse nível seria abaixo dos 12% ao ano. Muito já começaram a puxar a régua para cima.

“O ritmo de altas sequenciais de 1,5 ponto é uma velocidade muito alta”, diz João Beck, economista e sócio da BRA. “E essa aceleração aconteceu depois da mudança da regra de teto de gastos. Com o alívio das contas públicas, melhora nos reservatórios, desaceleração da atividade e valorização do real, é esperado pelo menos uma velocidade menor de alta nas próximas reuniões independente da mudança ou manutenção da taxa terminal.”

“A maior preocupação do BC neste momento ainda é com a ancoragem das expectativas”, diz Marcus Macedo, diretor de investimentos do Andbank Brasil. “A gente ainda tem uma indefinição acerca do fiscal. E riscos importantes no cenário externo. Além disso, as dúvidas sobre juros nos Estados Unidos e o impacto do preço do petróleo da situação na Ucrânia e ba Rússia acabaram obrigando o BC a subir de novo os juros. Mas entendemos que o fim do ciclo seja em março, com uma alta de 1 ponto.

  • Do ponto de vista do consumo, Selic mais alta implica empréstimos e financiamentos mais caros.

Para o mercado financeiro local, a renda fixa pagando melhor significa menor poder de relativo de sedução para a renda variável. Já para o internacional, a renda fixa no Brasil passa oferecer retorno pouco mais alinhado à sorte de riscos oferecidos pelo país. Mais dólares podem ser atraídos ou menos afugentados. O que, por sua vez, vai na direção de controlar o canal cambial da inflação.

Fonte: Valor Investe

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