Copom conclui que altas de um ponto percentual são melhor estratégia, aponta ata
O Comitê de Política Monetária (Copom) concluiu, em reunião na semana passada, que altas de um ponto percentual na Selic até um “patamar significativamente contracionista” são a melhor estratégia para cumprir as metas de inflação, segundo ata desse encontro, divulgada hoje.
Sob pressão do mercado para intensificar o ciclo de alta de juros, que desconfia do abandono da meta de inflação de 2022, o Copom simulou o que acontecerá se mantiver a trajetória de elevação de 1 ponto percentual da Selic a cada encontro, mas com a taxa terminando o ciclo de aperto em patamares mais altos. Sua conclusão é que, nesse ritmo, é possível cumprir a meta do ano que vem.
“O Copom concluiu que, neste momento, a manutenção do atual ritmo de ajuste associada ao aumento da magnitude do ciclo de ajuste da política monetária para patamar significativamente contracionista é a estratégia mais apropriada para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023”, disse.
Na semana passada, o colegiado elevou por unanimidade a Selic de 5,25% ao ano para 6,25% ao ano, afirmando ainda que antevê nova alta de 1 ponto percentual na reunião de outubro. Muitos no mercado pregavam uma dose mais forte, de 1,25 ponto percentual (p.p.)ou mesmo 1,5 p.p.
A ata traz que o Copom avaliou no encontro “os custos e benefícios de acelerar o ritmo da elevação dos juros”, optando ao final por manter o ritmo atual.
O colegiado concluiu, em primeiro lugar, que o atual estágio do ciclo de ajustes é “caracterizado por uma política monetária já efetivamente contracionista”. Isso estaria “evidenciado” na diferença entre as expectativas para as trajetórias da Selic e da inflação “ao longo do horizonte relevante de política monetária”.
O horizonte relevante inclui atualmente 2022 e, em menor grau, 2023 – anos para os quais as metas de inflação são respectivamente 3,5% e 3,25%. Antes da reunião, o mercado projetava que a Selic seria elevada a 8,5% até fevereiro de 2022, ficando nesse patamar até o fim do ano
Na sua análise sobre acelerar ou não o aperto monetário, o Copom também vez simulações “com trajetórias de elevação de juros que mantêm o ritmo atual de ajuste, mas consideram diferentes taxas terminais”. Essas simulações, argumenta o Copom, “sugerem que o atual ritmo de ajuste é suficiente para atingir patamar significativamente contracionista e garantir a convergência da inflação para a meta em 2022, mesmo considerando a assimetria no balanço de riscos”.
Por fim, no seu processo de decisão para manter o rito de alta em um ponto percentual, o colegiado ponderou o “peso de itens voláteis nas revisões das projeções de inflação de curto prazo e o ineditismo do processo de readequação econômica pós-pandemia”. Para o Copom, esses fatores “reforçam o benefício de acumular mais informações sobre o estado da economia e a persistência dos choques em vigor”.
Na linguagem usada na ata, a projeção de inflação do Copom para 2022, em 3,7%, está “ligeiramente acima da meta”. Já a projeção de 2023, em 3,2%, está “ao redor da meta”, definida em 3,25%. Mas o colegiado destacou o perigo de a inflação superar esses percentuais, já que o chamado balanço de riscos para a inflação está assimétrico para o lado negativo, devido às incertezas da política fiscal.
Isso justifica, segundo o colegiado, uma trajetória para a Selic “mais contracionista” do que a usada do cenário básico, que projeta uma inflação em 3,7% em 2022 e 3,2% em 2023.
A respeito do mercado de trabalho, a avaliação do colegiado é que três fatores indicam uma recuperação: recuo da taxa de desocupação; crescimento da força de trabalho; crescimento da população ocupada. Mesmo assim, a força de trabalho e a população ocupada ainda estão em níveis “consideravelmente abaixo dos observados antes da pandemia”, o que sugere que há uma ociosidade “remanescente no mercado de trabalho”. O Copom também admitiu “a dificuldade de avaliação do efetivo estado do mercado de trabalho”, em função das diferenças entre os dois principais indicadores: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua e Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
No caso da atividade econômica, o BC considera que o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre teve resultado “ligeiramente melhor do que o esperado”. Mas a esse número “seguiram-se divulgações de alta frequência marginalmente mais negativas, ainda que evoluindo favoravelmente”.
Ainda assim, a autoridade monetária manteve a sua projeção de uma “retomada robusta” no segundo semestre, conforme os efeitos do avanço da vacinação forem sentidos “de forma mais abrangente”.
Para o ano que vem, o BC enxerga três fatores que devem beneficiar o crescimento da economia: a continuação da retomada do mercado de trabalho e dos serviços, “mesmo que em menor intensidade do que se antecipava anteriormente”; o desempenho de setores “menos ligados ao ciclo de negócios”, a exemplo da agropecuária e da indústria extrativa; os “resquícios” da normalização da economia à medida que “a crise sanitária arrefece”.
Por fim, no cenário externo, o Copom repetiu a mensagem do comunicado divulgado após a reunião: o quadro ainda é “favorável para países emergentes”, mas “questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas” podem torná-lo “desafiador”.
Fonte: Valor Investe