Como a queda do PIB no terceiro trimestre afeta a sua vida? Entenda
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,1% no terceiro trimestre em comparação aos três meses anteriores, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O principal dado medidor do desempenho da economia do país dentro das expectativas das consultorias e instituições financeiras, após um trimestre de diminuição do indicador.
O PIB está no mesmo patamar do fim de 2019 e começo de 2020, ou seja, ficou em nível equivalente ao do período pré-pandemia. Contudo, ao contrário do que pode parecer, isso ainda não indica uma grande melhora na vida dos brasileiros, como a maioria sente no dia a dia. Apesar do avanço da vacinação contra a covid-19 e da redução de casos e mortes, o cenário econômico está cada vez mais distante do esperado e o pessimismo está aumentando.
“Achávamos que a vida ia melhorar esse ano, mas só foi piorando. A PEC dos precatórios e o rompimento do teto de gastos pelo Congresso e pelo governo foram determinantes para isso. Essa gastança de dinheiro vai gerar mais inflação e o Banco Central terá que responder com juros bem acima do que esperávamos”, afirma João Beck, economista e um dos sócios da BRA.
A novela da PEC dos precatórios se desenrola há meses e está no final, ao que parece, com a votação no plenário do Senado marcada para esta quinta-feira (2). A proposta cria espaço fiscal para o pagamento do Auxílio Brasil, por meio de um drible no teto de gastos. Entretanto, isso passa uma mensagem de que o governo está com a porteira aberta para gastar à vontade, míngua a confiança no Brasil e afasta investidores.
“O Congresso e o governo precisam mostrar que não é bem assim. Essa é a mensagem mais importante hoje que precisa ser passada para a economia e a sua vida melhorarem”, diz Beck. Ele explica que, com a expectativa de algumas altas de juros ainda pela frente, e consequentemente, de crédito mais caro para os consumidores e as empresas, dificilmente a economia vai começar a melhorar antes do segundo semestre de 2022, ainda mais em ano de eleição.
Com as empresas sem confiança, o desemprego diminuiu, mas em ritmo ainda bem lento. Ainda há 13,5 milhões de pessoas sem emprego no país e a renda média do trabalhador se aproxima do valor de 2012. Enquanto os empresários os juros do crédito continuarem aumentando e a confiança estiver baixa, o nível de emprego não deve crescer muito.
Com a subida de juros, a projeção é que a a inflação desacelere em 2022, mas ainda há dúvidas sobre quando isso vai acontecer. E ainda há a incerteza sobre o impacto da nova variante do coronavírus, a ômicron.
Com tantas dúvidas nublando o cenário, Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, concorda que ainda não dá para arriscar dizer quando exatamente a vida das pessoas vai melhorar. “Infelizmente não temos essa resposta e ela vale mais do que um PIB”, afirma.
Reserva de emergência é lição da pandemia
Em meio a tudo isso, os brasileiros devem continuar apertando os cintos das finanças pessoais (para a maioria, não há outra alternativa), conhecendo as limitações do bolso e seguindo com clareza o orçamento planejado.
Yoshinaga destaca que a pandemia, incluindo o surgimento da ômicron nos últimos dias, mostrou a importância da reserva de emergência. “Ainda estamos em uma pandemia e ainda não sabemos qual a perspectiva, apesar dos níveis mais altos de vacinação. Isso posto, a recomendação é manter a reserva de emergência intacta. Ela é especialmente importante em tempos incertos”, ensina.
“O conselho é ter prudência, manter o planejamento financeiro sem grandes gastos além do necessário. Com as festas de Ano Novo canceladas, muitas pessoas que iam fazer renda extra não terão mais esse dinheiro”, diz.
No mundo dos investimentos, com a alta de juros e a diminuição das projeções para o Ibovespa em meio ao aumento do risco fiscal e ao medo da nova variante, a renda fixa ganha atratividade. Yoshinaga ressalta que o momento atual, apesar de duro, é educativo para os investidores novatos.
“A lição é dura, mas importante. Talvez os mais novos de bolsa tenham pegado um período de bonança e tivessem a percepção de que a bolsa é só alegria, e agora estão vendo que mais retorno é associado a mais risco”, afirma. “Não dá para investir em bolsa o dinheiro que se conta para qualquer hora e o momento mostra isso.”