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Veja o que fazer com seus investimentos após o corte da Selic para 10,50%

Fonte : Valor investe

Por : Júlia Lewgoy

 

ASPAS GABRIEL REDIVO

 

Após o Banco Central cortar os juros pela sétima vez consecutiva nesta quarta-feira (8), os títulos do Tesouro Direto que acompanham a inflação estão entre os investimentos mais recomendados para períodos mais longos, aconselham analistas e gestores de patrimônio. Com o aumento dos juros oferecidos nesses papéis, a garantia de proteção contra a inflação e a segurança que eles oferecem, esses títulos são imbatíveis na competição com outras aplicações financeiras nesta hora de tanta incerteza, inclusive em relação à renda variável.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa Selic, referência para os juros da economia, de 10,75% para 10,50% ao ano, porque há uma desinflação em andamento. Com esse movimento, recuam os juros dos empréstimos e dos investimentos de renda fixa atrelados ao CDI (como CDBs, LCAs e LCIs) ou à Selic (o Tesouro Selic).

Os economistas acham que existe espaço para uma redução da Selic para até 9,63% neste ano, conforme as expectativas do mercado do último Boletim Focus. Acontece que o ambiente econômico ficou mais complexo no mês passado. Abril foi marcado por uma piora expressiva no ambiente externo. Dados de inflação piores do que o aguardado e de atividade econômica forte postergaram as apostas de cortes de juros pelo banco central americano (Federal Reserve, Fed).

No Brasil, o anúncio do governo de revisão das metas fiscais ampliou a percepção de risco em relação à dívida brasileira, contribuindo para que o dólar encostasse em R$ 5,30. Aumentou a incerteza do mercado sobre a Selic e vários economistas estão apostando que os juros recuarão menos ou mais devagar.

Nesse ambiente, os juros dos papéis do Tesouro Direto indexados à inflação saltaram para mais do que 6% mais a inflação. Com as taxas nesse patamar, eles são aconselhados como um dos melhores investimentos por praticamente todos os gestores e analistas para os investidores de longo e médio prazo.

Além de estarem com bons juros, esses títulos são valiosos para proteger o investidor contra a inflação. É bom escolher um prazo de vencimento alinhado aos objetivos de vida e evitar resgatar o valor antes, para não correr o risco de perder dinheiro com a marcação a mercado. As taxas desses papéis oscilam conforme as expectativas do mercado, e a perspectiva é que elas oscilem mais no curto prazo com o ambiente bastante incerto.

“Nossa visão para investimentos ficou mais cautelosa. O cenário dá margem para as pessoas terem exposição maior a papéis que acompanham a inflação. Estamos vendo esses títulos pagando acima de 6% ao ano, o que é bastante gordura”, afirma Frederico Nobre, líder de análise da Warren.

“Já o cenário para ativos de maior risco piorou. A bolsa está atrativa, mas o curto prazo é desafiador, porque os estrangeiros estão resgatando dinheiro com os juros em níveis altos nos Estados Unidos e falta fluxo, o que é péssimo”, diz.

Ele acrescenta que gosta mais dos papéis do Tesouro Direto do que de crédito privado neste momento, porque as taxas dos títulos emitidos por companhias diminuíram recentemente, e os que pagam bem são difíceis de serem escolhidos pelos investidores pequenos.

Na análise de André Leite, chefe de investimentos da TAG Investimentos, uma alocação defensiva faz mais sentido neste momento em que o mercado está se dando conta que conviverá com elevados juros por mais tempo. “As ações estão baratas, mas quando existe um papel no Tesouro Direto que acompanha a inflação pagando 6% ao ano além da inflação, fica difícil justificar o investimento em bolsa brasileira. Não é necessário tomar risco agora, há muito prêmio na renda fixa”, afirma.

“As estatísticas mostram que quem compra títulos atrelados à inflação oferecendo acima de 6% e carrega esse investimento por um período de quatro anos tem chance de 100% de superar o CDI. Essa é uma taxa muito atrativa”, diz. Ele acrescenta que não é necessário ir para os papéis muito longos para conseguir bons juros.

Os títulos prefixados estão com juros atrativos, mas menos do que os papéis que acompanham a inflação, segundo a maioria dos especialistas. Os investidores que desejarem aproveitar as taxas desses títulos na casa dos 11% ao ano devem priorizar os vencimentos mais curtos e resgatar também só no vencimento para não perder dinheiro. O risco desses papéis é eles pagarem menos que a inflação ou a Selic em prazos mais longos.

Já os títulos que acompanham o CDI ou a Selic seguem servindo muito bem para guardar a reserva de emergência, um dinheiro para gastar na hora das surpresas na vida. “Penso em três blocos de aplicações financeiras. O bloco da liquidez em papéis pós-fixados ou em fundos DI, o bloco da aposentadoria em títulos que acompanham a inflação do Tesouro Direto ou no Tesouro Renda+ (títulos do Tesouro Direto criados para a aposentadoria), e o bloco da multiplicação em risco maior, como ações de companhias estrangeiras, crédito privado e outras opções”, afirma Leite.

Em relação às ações brasileiras, o cenário está mais nublado. Cada vez mais analistas e gestores estão recomendando reduzir a fatia de bolsa, que está sofrendo com a saída dos investidores estrangeiros do Brasil. Com o ambiente complexo no exterior e o risco fiscal no Brasil, eles escolhem ficar em papéis com juros altos nos Estados Unidos, ou nas ações americanas das companhias de tecnologia que estão voando. E fica mais difícil a bolsa brasileira andar.

Contudo, essa avaliação não é consenso. Conforme Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments, atualmente existe uma oportunidade de investir em ações que ainda estão baratas, de companhias que ganham com a queda da Selic.

“Os investidores mais conservadores não devem estar muito investidos em renda variável, porque não têm expertise para escolher as ações por conta própria. Não é momento de experimentar”, afirma. “Mas os investidores mais moderados podem comprar ações que se beneficiarão do recuo na taxa ou fundos imobiliários com receita recorrente para pagarem dividendos”, diz.

Ele acrescenta que o momento é oportuno para comprar papéis de renda fixa nos Estados Unidos, inclusive de empresas brasileiras. Para fazer isso, as alternativas são abrir uma conta de investimento internacional ou comprar fundos de investimento no exterior.

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