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Veja o que fazer com seus investimentos após a Selic ser mantida em 10,5% pela segunda vez

Fonte: Valor Investe
Por: Júlia Lewgoy

ASPAS DE FABRICIO BRANDÃO VOIGT

Após o Banco Central deixar estabilizados os juros pela segunda vez seguida nesta quarta-feira (31), aproveitar os investimentos de renda fixa e esperar para aumentar os investimentos em renda variável segue sendo a recomendação da maioria dos especialistas. Com a alta do dólar e o aumento das expectativas para a inflação e para os juros, principalmente os papéis que acompanham a inflação são recomendados para os investidores que conseguem aguardar para fazer resgates.

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 10,5% ao ano, como era esperado por todos. Analisando as expectativas para o futuro, o que mais importa para investir, a maioria dos economistas espera que a taxa seguirá nesse patamar até o fim de 2024 e voltará a ser reduzida para menos de dois dígitos em 2025, mas continuará perto de 9%. Nas últimas semanas, contudo, cresceu o número de economistas que esperam juros parados em 10,5% por um período mais longo ou que não descartam uma alta neste ano.

O avanço do dólar e a piora nas previsões para a inflação deterioraram o cenário e aumentaram a chance de mudanças na rota da Selic, se necessário. “Dependendo de como dólar se comportar ao longo dos próximos meses, é possível que a discussão de aumentar juros mais no fim do ano ganhe força no mercado”, afirma Alexandre Cancherini, sócio e gestor da Galapagos Capital.

“No nosso cenário base, os juros serão mantidos em 10,5% até o fim de 2024 e reduzidos ao longo de 2025, mas para isso acontecer, as incertezas precisam ser reduzidas em relação ao dólar, ao substituto de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central e ao orçamento do governo no ano que vem”, diz.

Todos esses fatores aumentam a chance de a inflação e os juros serem maiores — e juro básico alto por mais tempo ou maior ainda do que está significa taxas dos empréstimos caras e aplicações financeiras de renda fixa com atrativas remunerações. Mas além de aproveitar os elevados juros, é preciso se proteger do risco da inflação acelerar.

“Achamos que uma inflação maior será mais parte do dia a dia do que gostaríamos. Nesse cenário, a maior preocupação do investidor deve ser como preservar o seu poder de compra”, afirma Cancherini. “O investidor deve se expor mais a papéis atrelados à inflação, pelo menos até ter mais visibilidade que dê conforto para aumentar os investimentos de risco”, diz.

Acha-se esses papéis no Tesouro Direto pagando mais de 6% mais o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao ano, o que é uma bela remuneração. No entanto, os investidores que não desejam correr o risco de sofrer perdas devem fazer o resgate somente no vencimento dos títulos, porque os preços desses papéis oscilam muito conforme as expectativas de juros do mercado.

Boa parte dos especialistas indica investir nos papéis de prazos mais curto, porque eles estão com juros suficientemente altos e não compensa se expor a mais riscos de oscilação alongando a aplicação.

E os papéis prefixados?

Os papéis prefixados também são aconselhados para investir nos próximos anos. No Tesouro Direto, eles estão oferecendo mais de 12% ao ano. Contudo, os economistas gostam mais dos papéis que acompanham a inflação, porque os prefixados têm o risco de remunerar menos que os juros básicos ou a inflação. Aos corajosos que forem escolhê-los, é melhor optar pelos prazos de vencimento mais curtos e esperar para fazer o resgate no vencimento para quem não deseja correr o risco de perdas.

“Atualmente preferimos os títulos que acompanham a inflação do que os prefixados. Antigamente, encontrávamos papéis prefixados com juros altíssimos e emitidos por instituições muito sólidas, mas não enxergamos mais isso”, afirma Andressa Bergamo, especialista em mercado de capitais e fundadora da AVG Capital. “No Tesouro Direto, as taxas dos prefixados não estão as melhores e não compensam o risco de perder para a inflação no longo prazo”, diz.

Ela ainda destaca que os papéis indexados ao CDI (como CDBs, LCAs e LCIs) ou à Selic (o Tesouro Selic) também estão com juros muito altos e são mais conservadores para formar uma reserva de emergência (um dinheiro para resgatar nas surpresas da vida) ou cumprir com objetivos de prazo mais curto. Entretanto, ressalta que o título precisa oferecer no mínimo 100% do CDI, que é quase equivalente à Selic.

Fabrício Voigt, economista da Aware Investments, acha é hora de o investidor ter um portfólio de investimentos mais conservador, porque a chance de aceleração da inflação é grande com a desarrumação das contas do governo. Nesse ambiente, ele acredita que os brasileiros conviverão com juros altos por mais tempo.

“Temos um dos maiores juros do mundo, então correr mais riscos neste momento de incerteza não faz muito sentido”, afirma. “O investidor deve estar alinhado ao cenário em que está vivendo e ser mais conservador agora, aproveitando os juros pós-fixados e prefixados no Tesouro Direto e nos papéis emitidos por bancos”, diz.

E fora do Tesouro Direto?

Fora do Tesouro Direto, papéis emitidos por bancos (como CDBs, LCAs ou LCIs) e empresas (como CRAs, CRIs e debêntures) oferecem taxas maiores. Os papéis emitidos por bancos são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), parecido com um seguro que cobre até R$ 250 mil por banco se a instituição quebrar. Porém, os papéis emitidos por empresas não contam com essa cobertura. Quanto maior o risco de inadimplência da empresa ou do banco, maior a taxa paga ao investidor.

Na análise de Voigt, vale a pena montar uma carteira diversificada de cinco papéis emitidos por bancos. “Acho que compensa encarar o risco maior de crédito desde que respeitando o limite do FGC de R$ 250 mil por banco”, avalia.

Essa análise não é consenso, contudo. Na avaliação de Cancherini, da Galapagos Capital, não compensa investir em papéis emitidos por bancos que o investidor nunca ouviu falar apenas porque eles estão oferecendo taxas muito boas. Ele acha que encontra-se juros muito competitivos em ativos de bancos mais sólidos ou no Tesouro Direto.

Segure a onda na bolsa

Os especialistas aconselham não aumentar os investimentos de renda variável neste momento em que o Ibovespa se desvaloriza mais de 5% no ano. A cautela deve prevalecer em meio a um cenário econômico externo volátil e a incertezas sobre as políticas para os juros e para as contas do Brasil.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve as taxas de juros estabilizadas hoje, mas a perspectiva é de redução em setembro. As taxas, porém, continuarão altas em meio às incertezas em relação à atividade econômica, à inflação e o mercado de trabalho, tudo isso em ano de eleição no país, o que traz grandes desafios para construir a carteira de aplicações financeiras.

“Aconselhamos que a exposição aos investimentos de renda variável como as ações e os fundos multimercados seja menor do que historicamente é, devido à falta de visibilidade. Reconhecemos que os preços na bolsa estão bastante atrativos, mas para aumentar a exposição é necessário ter mais visibilidade no mundo e no Brasil”, afirma Cancherini, da Galapagos Capital.

Voigt, da Aware Investments, concorda que não é uma boa hora para acelerar muito o pé em renda variável. “Ao analisarmos os juros da renda fixa, acaba não compensando as oscilações da renda variável neste momento. O investidor consegue uma remuneração similar na renda fixa, mas com um grau maior de segurança”, diz.

Para quem quer insistir na bolsa brasileira, a dica é ficar longe de nomes de empresas cíclicas, que dependem dos juros mais baixos, e focar no longuíssimo prazo (mais de cinco anos). A indicação são negócios de qualidade e geradores de caixa, que distribuem dividendos melhores do que a média.

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