Luz no fim do túnel? Resgate de fundos de ações é o menor do ano em setembro
Os resgates dos fundos de ações alcançaram o menor patamar do ano em setembro. A saída líquida no mês foi de R$ 49 milhões, 97% a menos do que a registrada no mês anterior. O saldo no está negativo em R$ 39,5 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os saques acumulados de fundos de ações neste ano já são o maior da série histórica da entidade, iniciada em 2006. O recorde negativo anterior era o do ano passado, mas as retiradas deste ano já superaram em 50% as saídas de 2022.
O destaque do período ficou com os fundos de investimentos em ações no exterior. A categoria teve captação líquida de R$ 1,583 bilhão no período, o que compensou a saída de R$ 1,78 bilhão em fundos de ações ativo – a mais volumosa, com patrimônio de R$ 280 bilhões. Gabriel Redivo, diretor de gestão na Aware Investments, disse que o desempenho positivo pode estar associado com a nova resolução da CVM que facilita os investimentos no exterior e que entrou em vigor neste mês.
Chegou a hora da virada?
O menor volume de saques líquidos dos fundos de ações também coincide com o movimento de queda da taxa de juros Selic, já reduzida em 1 ponto percentual desde o início do ciclo de cortes, em agosto. A tendência é aumentar o montante alocado em ativos de risco, conforme caem os juros e, consequentemente, o rendimento de ativos mais conservadores, como o de títulos atrelados à Selic. Mas especialistas avaliam que, mesmo com o ciclo de queda iniciado, ainda é cedo para especular uma virada de direção na captação dos fundos de ações.
“Por mais que a taxa de juros esteja caindo, ainda está muito alta. É difícil falar em um fluxo muito forte para ativos de risco ainda. Se a taxa de juro cair para abaixo de 10% e permanecer baixa por algum tempo, podemos ver esse dinheiro voltar para os fundos de ações”, afirmou Marcel Andrade, head de fundo de fundos na SulAmérica Investimentos.
A última janela de forte captação da indústria de fundos de ações ocorreu entre 2017 e 2021, quando a captação líquida somou R$ 232,5 bilhões. A Selic, vale recordar, permaneceu abaixo de 10% pela maior parte desse período.
Mas a taxa básica de juros não é a única variável dessa equação. Redivo ressaltou a importância de outro fator para a captação de fundos de ações: a atual performance, que não tem brilhado os olhos de investidores. “O desempenho recente tem atrapalhado a captação dos fundos. O investidor brasileiro é avesso a perdas e ainda sofre muito o efeito manada.”
O mercado externo, comentou Andrade, está entre as ameaças para o desempenho da bolsa local. “A continuidade da queda de juros está praticamente certa no Brasil. Mas ainda há muita incerteza no mercado internacional, com uma dinâmica recessiva e ativos de renda fixa apresentando uma melhor relação risco/retorno.”
Buraco de R$ 240 bilhões
A expectativa é de que os fundos de ações apresente uma captação mais sustentável a partir do próximo ano, para quando espera-se que o BC já tenha concluído o ciclo de corte de juros e que novas altas já não estejam sendo discutidas pelos principais bancos centrais do mundo.
Nesse momento, disse Redivo , até mesmo os fundos de renda fixa deverão apresentar níveis mais altos de captação. “Hoje, há muitos investidores comprando diretamente os títulos de renda fixa. Parece confortável comprá-los quando ainda estão remunerando 1% ao mês. Mas, quando essa taxa cair, a tendência será uma maior busca pela gestão profissional em renda fixa.”
Apesar do juro ainda estar em nível elevado, os fundos de renda fixa já sofreram resgates de R$ 37,5 bilhões, apenas R$ 2 bilhões a menos que os de ações, Em 12 meses, nenhum fundo sofreu mais saída que os de renda fixa, que terminaram setembro com saldo negativo de R$ 177,45 bilhões. No período, os resgates dos fundos brasileiros totalizam R$ 240,5 bilhões. “A indústria de fundos como um todo deverá ser beneficiada pela queda de juros”, comentou Redivo.
Fonte: Exame Invest
Por: Guilherme Guilherme
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