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LCIs e LCAs perdem até 17% dos investidores após restrições do CMN; para onde foram?

Fonte: InfoMoney

Por: Leonardo Guimarães

 

ASPAS DE LEANDRO ORMOND

 

Até o início de fevereiro deste ano, os investidores brasileiros tinham à sua disposição ativos bancários extremamente vantajosos, as LCIs e LCAs. Mas uma decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) alterou as regras para esses instrumentos e fez com que os investimentos perdessem parte da atratividade.

De acordo o Censo Mensal do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), o número de investidores destes produtos tem caído nos últimos meses. A última atualização do balanço confirma o recuo em abril – último dado disponível. A queda repete o que já havia acontecido em fevereiro, mês do anúncio das mudanças.

No caso das LCIs, a base de investidores caiu aproximadamente 17% entre fevereiro (2.645.462) e abril (2.202.168). Confira na tabela:

LCI – Letras de crédito imobiliário

LCA – Letras de crédito do agronegócio

Quatro meses após a restrição nos lastros e vencimentos das letras de crédito, os investidores ainda buscam alternativas, de acordo com Matheus Volpato, head comercial de distribuição da XP. “Víamos muitos investidores que só aplicavam em LCI e LCA; a pessoa física precisou atualizar seu leque de opções ou aceitar condições inferiores ao que tinha antes”, diz

Por que LCIs e LCAs estão menos atrativas?

As condições inferiores são medidas por dois fatores: liquidez e remuneração. Como o CMN proibiu que esses instrumentos tenham vencimento inferior a 9 (LCAs) e 12 meses (LCIs), o investidor precisa carregar os ativos por mais tempo, uma mudança importante, já que antes esse mercado oferecia liquidez diária após 90 dias, por exemplo.

Do lado do pagamento, analisar o estoque ajuda a entender por que a rentabilidade está mais baixa. O nível de captação dos bancos por esses instrumentos tinha forte crescimento desde 2018. Porém, de dezembro do ano passado a maio deste ano, o ritmo de crescimento teve diminuição acentuada, de apenas R$ 11 bilhões nas LCAs.

Outro dado importante do Censo Mensal do FGC mostra que os investimentos nas letras vêm caindo desde janeiro. Em janeiro, os investimentos cobertos pelo Fundo em LCAs somava R$ 410,04 bilhões, montante que caiu para R$ 399,97 bilhões em abril. Nas LCIs, a queda foi um pouco menor, de R$ 352,07 bilhões para R$ 345,95 bilhões.

Com a oferta de títulos mais restrita, os bancos diminuíram a rentabilidade. “Hoje, para conseguir taxas boas é preciso ir para dois a três anos de prazo final; se antes era 98% do CDI, hoje é 95%”, diz Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy.

O investimento deixou de valer a pena?

A avaliação dos especialistas é que esses instrumentos não oferecem tantas vantagens ao investidor pessoa física quanto antes, mas, ainda assim, são bons ativos para compor a carteira de renda fixa.

“Seguem como bons ativos para o investidor que consegue abrir mão de 9 ou 12 meses de liquidez, por conta do incentivo fiscal. Tem o risco do banco, que gostamos muito, já que é um setor de baixo risco, com um Banco Central muito forte”, diz Daniela Gamboa, head de crédito privado e imobiliário da SulAmérica Investimentos.

Leandro Ormond, analista da Aware Investments, diz que para quem tem um horizonte de investimentos de um a dois anos, a procura por LCIs e LCAs ainda é alta, já que nesse período as alíquotas de Imposto de Renda ainda são grandes, o que aumenta a atratividade dos não tributados. “Mas é preciso sempre fazer conta e comparar a rentabilidade com um ativo tributado, que, em alguns casos, entregam rendimento líquido maior, mesmo com a incidência do IR”, lembra o especialista.

Os vencedores

Com as mudanças promovidas pelo CMN, ativos de crédito privado vêm ganhando relevância, principalmente os incentivados. Nesse contexto, os CRIs e CRAs e debêntures incentivadas se apresentam como opções para o investidor.

Para os analistas, esses instrumentos não superam a demanda absorvida pelos CDBs, os “substitutos diretos” de LCIs e LCAs, segundo Volpato. Porém, a limitação das letras de crédito fizeram os investidores olharem para o crédito privado com mais apetite. “É um processo educacional, os títulos de dívida corporativa têm horizonte de vencimento longo, mas podem ser negociados no mercado secundário, o movimento é positivo para trazer mais demanda e liquidez para o mercado”, diz o especialista da XP.

De janeiro a maio, as ofertas no mercado de capitais – que inclui debêntures, CRIs e CRAs – atingiram R$ 268,2 bilhões, recorde para o período, com crescimento de 150,3% no mesmo período de 2023. As debêntures foram responsáveis por 67,4% das emissões.

Os fundos de debêntures incentivadas fazem parte dos beneficiados pelas mudanças, já que o investidor ainda quer ativos isentos de Imposto de Renda e que pagam bem. “Investir em debêntures via fundos tem vantagens gritantes, como a diversificação de papéis, o monitoramento da saúde financeira das empresas e o preço de execução, já que o preço que eu compro e vendo os papéis não é o mesmo do investidor pessoa física, é um preço melhor”, explica Ono, da Legacy.

Esses fundos registram recordes de captação desde fevereiro, quando as mudanças nos ativos imobiliários e do agronegócio foram promovidas. Os grandes bancos fecharam seus fundos de debêntures incentivadas para captação, com o objetivo de preservar a rentabilidade aos investidores, já que eles são obrigados a investir 85% em incentivadas e encontrar papéis atrativos vai se tornando uma tarefa mais difícil conforme o patrimônio cresce. Bradesco, Itaú, Santander, Kinea e Sparta fecharam fundos para captação, o que mostra a força que esse mercado ganhou nos últimos meses.

Já o mercado de CRIs cresceu 81%, enquanto o volume de emissões de CRAs mais que dobrou, com alta de 144%. Apesar de também receber restrições do CMN, o mercado de certificados de recebíveis se adaptou rapidamente. “Foi uma surpresa positiva, vemos emissões realmente relacionadas ao agronegócio e ao setor imobiliário”, avalia Gamboa.

 

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