É possível superar os efeitos da impulsividade no comportamento financeiro?
25 de junho de 2021É possível superar os efeitos da impulsividade no comportamento financeiro?
22/02/2021
Para garantir um futuro financeiramente estável e resguardar-se frente a imprevistos é necessário um bom planejamento. Um paper publicado em 2016 na American Psychology Association pontua que, para seguir os planos feitos, além de conhecimento financeiro é necessário ter controle dos impulsos, assumir uma postura pouco materialista e possuir uma visão de futuro, ou conceito de futuro.
Este estudo se apoia em pesquisas anteriores que afirmam que o materialismo, a pouca visão de futuro e baixo autocontrole são os principais fatores para a baixa taxa de poupança entre americanos, juntamente com normas culturais.
Para os autores, conhecer os aspectos da personalidade pode ajudar a identificar as pessoas que tendem a gastar, mas não contribuem tanto para mudança de comportamento. Isso se dá porque características da personalidade são relativamente estáveis e por isso, difíceis de mudar através de exercícios.
A impulsividade, por exemplo, é definida como um traço psicológico ligado ao comportamento financeiro e é frequentemente vista como uma taxa de desconto do futuro (preferência pelo presente ao invés de uma recompensa futura, como descrita no viés do presente). A conexão entre o desconto de futuro e a impulsividade, segundo os autores, pode ser parcialmente explicada a partir da neurologia: evidências apontam que sujeitos mais impulsivos podem ter uma percepção de tempo realmente diferente daqueles que apresentam maior autocontrole.
Já o materialismo, no sentido adotado na pesquisa, envolveria uma associação da ideia de sucesso com a posse de objetos físicos/materiais. Portanto, indivíduos que se identificam com estes valores podem se identificar como ‘gastadores”. Ele é comumente associado com imediatismo e impulsividade, conflitando, assim, com objetivos de médio ou longo prazo.
Por isso, um conceito chave para a pesquisa é o de distância psicológica, que se dá de forma automática, mas também consciente. Os autores descrevem a distância psicológica como a distância percebida mentalmente entre objetos ou eventos futuros e o presente, e que se dá pela interrelação entre percepção de tempo, desconto e conexão com o “eu futuro”. Não é possível mudar a personalidade como um todo (ou seja, fazer uma pessoa deixar de ser impulsiva) com intervenções simples, mas é possível trabalhar o aspecto consciente da distância psicológica, o que pode afetar o tratamento de fatores da personalidade, como a impulsividade.
O objetivo da pesquisa era descobrir se o conceito de futuro afetaria o comportamento financeiro, de forma geral, e se essa relação seria significativa, mesmo na presença de tendências impulsivas. Além disso, os pesquisadores buscaram compreender o papel, ou a influência do conhecimento financeiro na impulsividade, na distância psicológica e sobre o comportamento financeiro.
A pesquisa foi conduzida por uma plataforma e chegou a uma amostra final de 710 respostas. Os participantes eram em sua maioria homens (56.7%), com maior nível de educação formal que a população geral dos Estados Unidos, mas com média salarial menor que a média do país.
O comportamento financeiro foi avaliado por uma escala que perguntava a frequência com a qual 17 tipos de comportamento foram adotados pelos respondentes nos últimos 6 meses. Já a impulsividade foi medida pela Brief Self-Control Scale. Outros aspectos foram também avaliados, como o letramento financeiro, medido pelo Big Five, além do conceito de futuro, este através de perguntas de nível interpretativo e com foco no horizonte temporal.
A pesquisa encontrou um efeito negativo, ou seja, quanto maior a impulsividade e o materialismo, menores eram os índices adequados de comportamento financeiro; enquanto o conceito de futuro e o letramento financeiro tiveram efeitos positivos. O estudo também demonstrou que um forte conceito de futuro pode reduzir os efeitos de impulsividade no comportamento financeiro, com um efeito positivo e indireto, enquanto este efeito indireto não foi percebido entre letramento financeiro e impulsividade no comportamento financeiro.
Segundo os resultados encontrados, o comportamento financeiro é bastante influenciado pelo modo como os indivíduos conceituam o futuro, mesmo quando há a presença de traços de impulsividade. Pessoas que planejam mais o futuro, com uma visão clara de eventos e objetivos mostraram-se mais propensas a demonstrar menores níveis de impulsividade e comportamentos financeiros mais adequados para formação de poupança.
Os pesquisadores concluem que apenas letramento financeiro não é capaz de mudar índices de impulsividade, valores materiais ou uma visão enfraquecida de futuro. Por isso, poderia ser mais eficaz focar em intervenções que objetivassem desenvolver e fortalecer o conceito de futuro, principalmente em públicos orientados para o presente e mais impulsivos, através de tarefas simples, como escrever planos e projetar de objetivos para o futuro, a médio e longo prazo, de forma a visualizá-los mais concretamente.
Fonte: Penso, Logo Invisto?