4E Radar SET/2021
Cenário Internacional
EUA – O PIB norte-americano cresceu 6,6% no segundo trimestre do ano, no dado anualizado.
O número – menor do que o esperado – resultou do aumento nas importações, diminuição do investimento privado em estoque/infraestrutura e menor gasto do governo nas concessões do Paycheck Protection Program (PPP).
UE – No segundo trimestre, a economia da União Europeia cresceu 2,1% – no dado dessazonalizado -, segundo o Eurostat.
O número foi impulsionado pelo aumento no consumo das famílias – que cresceu 3,5% na U.E. – responsável por 1,7 p.p. da variação do produto no período.
Cenário Político
Bolsonaro e seus desafios
Os últimos 15 dias marcaram importantes progressos na agenda econômica do governo com a aprovação, ainda na Câmara dos Deputados, de parte da Reforma
Tributária. Para além da pauta econômica, novas mudanças na legislação eleitoral foram aprovadas e as declarações do atual Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no último dia 7 de setembro repercutiram em tom de conflito entre os três poderes.
No dia 1º de setembro a Câmara dos Deputados aprovou o PL. 2337/2021 que tratava das alterações no Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas. De acordo com o projeto, os lucros e dividendos serão taxados em 20% a título de Imposto de Renda na fonte, mas fundos de investimento em ações ficam de fora. Já o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) será reduzido de 15% para 8%. A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) diminuirá 0,5 ponto percentual em duas etapas, condicionadas à redução de deduções tributárias que aumentarão a arrecadação. Após o fim das deduções, o total será de 1 ponto percentual a menos, passando de 9% para 8% no caso geral. Bancos passarão de 20% para 19%; e demais instituições financeiras, de 15% para 14%. Agora o texto segue para a análise do Senado.
No dia 07 de setembro o presidente da República Jair Bolsonaro, emitiu declarações ofensivas direcionadas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em suas declarações, o presidente afirmou que não mais cumpriria com as decisões do Ministro. Após a tensão e conflito evidente entre o Presidente e as lideranças tanto do Legislativo, quanto do Judiciário, Jair Bolsonaro emitiu uma nota oficial, ainda no dia 09 de setembro, como tentativa de apaziguar os ânimos entre os três Poderes. De acordo com analistas políticos, a carta pode e deve ser vista como um recuo do presidente que ainda precisa terminar o mandato e teme ser preso, juntamente com os demais membros da família.
PIB
A projeção da 4E para o PIB de 2021 foi revisada, indo de 5,3% para 4,9%. Esperamos uma recuperação mais forte no 2º semestre impulsionada pelo setor de
serviços, contrabalanceando em parte o cenário mais pessimista que a atividade industrial vem enfrentando.
A produção industrial de julho caiu 1,3% na comparação com junho (-0,2%) na série dessazonalizada. Prospectivamente, o elevado número de desempregados, a
queda no poder de compra das famílias e a desorganização nas cadeias produtivas globais, devem seguir limitando a capacidade de recuperação do setor pelos próximos meses.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu para 107,0 pontos em agosto, frente aos 108,4 em julho – na série com ajuste sazonal. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 0,4 pontos no mesmo período, situando-se em 81,8 no sétimo mês do ano – também para os valores livres de efeitos sazonais.
PIB Regional
Em relação ao primeiro trimestre de 2021, o resultado do PIB Regional para o segundo trimestre do ano trouxe destaques positivos para 17 UFS na série sem efeitos sazonais.
Pela ponta positiva estão as regiões Norte (2,9%) e Nordeste (2,3%). No Norte, a recuperação da indústria (1,8%) foi o principal condutor do crescimento no trimestre. Já no Nordeste, com o avanço da vacinação e retorno da mobilidade os serviços apresentaram crescimento de 3,7%.
Na ponta negativa estão as regiões Centro Oeste (-2,8%), Sul (-0,7%) e Sudeste (-0,1%), fortemente impactadas pela desaceleração da agropecuária. O setor recuou -2,8%, -5,7% e -2,9% respectivamente.
Mercado de Trabalho
Segundo a PNAD contínua, a taxa de desocupação apresentou queda de 0,6 p.p. frente ao trimestre móvel anterior, encerrando o período de abril a junho em 14,1%, o maior valor para o segundo trimestre da série histórica – iniciada em 2012.
A taxa de desemprego deve seguir em patamares elevados nos próximos meses na medida em que o número de pessoas em busca de emprego cresça em ritmo superior à demanda por trabalho.
Dados do Caged de julho indicam a criação de 316,5 mil vagas de emprego (236,3 mil na série dessazonalizada), o que representa uma desaceleração, na série com ajuste sazonal, ante a junho, quando foram gerados 275,1 mil postos.
Inflação
O IPCA avançou 0,87% em agosto, maior variação para o período desde 2000 (1,31%). No acumulado em 12 meses, a inflação foi de 9,68%.
Prospectivamente, acreditamos que o IPCA deve seguir acelerando nos próximos meses, corolário da crise hídrica e da tendência de reajuste nos preços dos serviços.
O IGP-M de agosto variou 0,66%, resultado abaixo das expectativas do mercado (0,86% de acordo com o Valor Data).
O IPA-M, que corresponde a 60% do índice geral, teve sua alta de 0,66% conduzida pelo grupo bens finais (2,22%).
Já o IPC-M, responsável por 30% do IGP-M, teve incremento de 0,75% em agosto, com destaque para alimentação (1,17%) e habitação (1,05%).
Política Monetária
Em sua reunião de agosto, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros para 5,25% ao ano.
O Banco Central destacou em seu comunicado, riscos para ambos os lados do seu cenário prospectivo: De um, reversão na alta de preço de commodities. De outro, a piora na trajetória fiscal como resposta a pandemia – ou a frustração nas reformas – tende a pressionar o prêmio de risco.
Projetamos mais três altas de 1 p.p., com a Selic atingindo 8,25% no final deste ano.
Política Fiscal
Em julho, o setor público consolidado reportou uma expressiva desaceleração do deficit primário, que marcou R$ 10,1 bilhões no mês, ante ao saldo negativo de R$ 65,5 em junho e R$ 81,1 bilhões no mesmo período de 2020.
No acumulado em 12 meses, o deficit registrado foi de R$ 234,7 bilhões – valor equivalente a 2,9% do PIB, e que segue a trajetória de queda vista ao longo deste
ano, catalisada pelo aumento da arrecadação e diminuição de despesas associadas à pandemia.
Em suma, os resultados de julho ratificam a melhora do quadro fiscal verificada ao longo do ano, ao mesmo tempo que o governo, antecipando as eleições de 2022,
dá sinais conflitantes em relação ao compromisso com a saúde das contas públicas.
Taxa de Câmbio
Acreditamos que a taxa de câmbio tende a se estabilizar em patamar mais depreciado, em termos reais, frente aos níveis de 2010-2014.
O Real até chegou a se valorizar no mês de junho, com recomposição dos juros, aprovação do orçamento e termos de troca muito favoráveis, mas o movimento se reverteu com piora do quadro fiscal e político.
Esperamos que o movimento de apreciação tende a voltar, de forma que a taxa de câmbio deve encerrar o ano em R$ 5,00, mas incertezas da eleição de 2022 começam a entrar no radar.
Continuamos a enxergar dificuldades na aprovação de novas reformas, algo que certamente limita o potencial de recuperação do real.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: 4E Consultoria