O que esperar do mercado de trabalho depois dos dados do Caged em fevereiro?
Os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça-feira pelo Ministério do Trabalho e Previdência indicam que o mercado de trabalho brasileiro registrou abertura líquida de 328.507 vagas com carteira assinada em fevereiro.
Houve abertura de vagas em todos os cinco setores da economia em Fevereiro. O secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Previdência, Bruno Dalcolmo, afirmou que o desempenho do mercado formal foi “consistente com a recuperação” da economia. “Não dá para dizer que é estrutural, mas vale ser destacado”, completou Dalcolmo, chamando a atenção positivamente para o desempenho recente do setor de educação.
Segundo o secretário-executivo, é esperada alguma desaceleração “no crescimento [total] de contratações em relação ao ano passado”, já que o Brasil está mais avançado no ciclo da recuperação econômica do que estava em 2021. Por sua vez, as demissões por enquanto permanecem “estáveis”.
Acompanhe a repercussão dos dados e as projeções para o mercado de trabalho.
Surpresa pode ser fruto de fatores sazonais, como volta às aulas, diz iDados
A forte geração de vagas com carteira assinada em fevereiro pode ter sido influenciada por fatores sazonais, como a contratação temporária de professores para a volta presencial às aulas, avalia o economista da Idados, Tiago Barreira.
A abertura líquida de 328.507 vagas com carteira assinada ficou acima da estimativa mediana de instituições financeiras, gestoras de recursos e consultorias, de abertura abertura líquida de 288 mil vagas, com mediana de 220 mil, segundo o Valor Data. A iDados estava no piso das estimativas, com projeção de 47 mil.
Barreira lembra que o novo Caged é divulgado sem o ajuste sazonal, o que abre margem para uma variação maior dos números. Além disso, ele ressalta que o número foi puxado pelo setor de administração pública, educação e saúde.
“Mais de um terço desse resultado veio desse setor. Alguns fatos podem explicar isso, como a contratação de cerca de 200 mil trabalhadores temporário pelo IBGE para a realização do senso este ano, ou a contratação de professores para a volta às aulas”, diz o analista. “Como o Caged tornou obrigatório o registro de contratações temporárias, o dado divulgado inicialmente é mais sensível a essas flutuações.”
Apesar da surpresa, a consultoria não pretende, no momento, alterar sua projeção para o ano, de 595 mil contratações. “Devemos fazer alguns ajustes, mas a tendência de desaceleração do Caged em relação ao ano passado não muda, em linha com a nossa projeção de desaceleração da economia e aumento da taxa de juros”, diz o economista.
Reabertura ainda impulsiona geração de vagas, diz Tendências
Na avaliação é do economista da Tendências Consultoria, Lucas Assis, a reabertura da economia em meio ao enfraquecimento da pandemia da covid-19 segue beneficiando o mercado de trabalho, em especial o de serviços presenciais.
A Tendências era estava no piso das estimativas, com projeção de 225 mil. “A surpresa novamente ficou no número de admitidos, principalmente no setor de serviços presenciais, o que está associado à reabertura da economia. A admissão está superando os 2 milhões, patamar acima de janeiro, que ficou em 1,8 milhão”, diz o analista.
Dito isso, Assis espera que, em algum momento o cenário difícil para a economia brasileira este ano — a Tendências espera crescimento zero do PIB — acabe se impondo sobre o mercado de trabalho brasileiro, resultando em um número menor de criação de vagas do que o visto em 2021.
Outro fator que deve contribuir é o fim do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que contava com 715 mil empregos com garantia provisória em fevereiro, mas se encerra em abril”. A Tendências projeta uma geração de vagas 950 mil vagas formais em 2022.
Nos cálculos dessazonalizados da XP, houve uma geração de vagas de 140 mil em janeiro para 190 mil em fevereiro. Já as contratações, também feito o ajuste sazonal, cresceram 3,2% no mês, a segunda elevação consecutiva na margem. Já o número de desligamentos cresceu 1,4%, pelo terceiro mês consecutivo.
“A nosso ver, o mercado de trabalho formal no Brasil continuará em expansão nos próximos meses. Isto posto, e em que pese a grande surpresa altista com os dados de fevereiro, mantemos o prognóstico de gradual desaceleração no ritmo de criação de vagas ao longo de 2022. O fim do programa BEm e o enfraquecimento da demanda doméstica são os principais fatores por trás desta expectativa”, diz a consultioria, que prevê geração líquida de 1,10 milhão de vagas no ano.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe