Inflação no Brasil deve chegar ao pico em abril, diz presidente do Banco Central
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que a inflação no Brasil deve chegar ao pico em abril e que número do próximo mês deve ser maior que o esperado pela autoridade monetária.
“Falando em inflação brasileira, vamos chegar no pico em abril e voltar a cair”, disse em evento promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “A gente estima que o número [de inflação] de curto prazo seja um pouco mais alto do que a gente tinha imaginado anteriormente, do próximo mês”, complementou.
Para Campos, a inflação contaminou os núcleos e o Brasil tem sido mais atuante no combate à alta de preços ao subir mais rapidamente a taxa básica de juros (Selic). Segundo ele, ainda há uma percepção no mundo de que a inflação é temporária. “A gente tem um problema de inflação mais grave no mundo, alguns países começaram a reconhecer”, ressaltou.
Guerra
O presidente do Banco Central ainda afirmou nesta quarta-feira que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia modificou a dinâmica das cadeias globais de valor e que isso pode gerar efeitos positivos para o Brasil.
“Tem uma notícia que pode ser potencialmente muito boa quando vemos os efeitos dos choques da guerra para o Brasil”, disse.
“A parte de minerais é positivo para o Brasil, porque é exportador. A parte de alimentos também, se o Brasil tiver fertilizante é positivo para porque o país é exportador”, completou.
Segundo ele, o redesenho das cadeias globais pode ser uma oportunidade para o Brasil se inserir nesse contexto.
“O Brasil não se inseriu nas cadeias globais de valor, agora temos oportunidade de estarmos presentes. Essa é uma grande oportunidade para o Brasil em termos do que está acontecendo no mundo”, disse.
Crise de energia
Além disso, o presidente do Banco Central afirmou que a crise recente de energia no mundo, agravada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, significa “um passo atrás” na transição verde no curto prazo.
“No curto prazo, [a crise] significa um passo atrás em termos de energia limpa e transição verde porque tem um problema energético que aflige as pessoas, mas em longo prazo pode haver uma melhora porque existe um incentivo às energias alternativas”, disse.
Campos reforçou a alta de preços de energia e falta de investimento, que geram gargalo prolongado no setor. Ele atribuiu a falta de investimento no setor mesmo com aumento de demanda à chamada inflação “verde”, gerada pela transição para uma economia sustentável.
Segundo ele, a crise energética começou na pandemia e se intensificou com a guerra na Europa. “Problema de gás natural começou na pandemia, e não na guerra, mas foi exacerbado agora”, destacou. “Mais importante que o movimento energético, que é mais duradouro, é o redesenho das cadeias globais de valor. “Teremos um mundo mais polarizado”, ressaltou.
Campos avaliou que o mundo deve passar por período prolongado de inflação alta e crescimento baixo. “Temos a primeira guerra travada em mídias sociais e houve o maior conjunto de sanções da história, com fortes implicações, primeiro com uma grande crise energética global”, disse.
No Brasil, ele destacou o crescimento do mercado de crédito e números positivos nas contas públicas. “A gente tem crédito mesmo com juros subindo a dois dígitos”, comemorou. “Vemos uma grande melhora no curto prazo do fiscal. O aumento das commodities ajuda o fiscal porque aumenta a arrecadação”, complementou.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe