‘Come-cotas’ morde R$ 8 bilhões do investidor hoje; entenda como funciona
Os investidores de fundos vão perceber que têm menos dinheiro hoje em suas aplicações. A razão é a antecipação de parte do imposto de renda sobre os ganhos, que tem o apelido de “come-cotas” e é cobrada de fundos de renda fixa, DI, multimercado e cambiais.
O “leão” aparece no último dia útil dos meses de maio e novembro para morder 15% da valorização do investimento nos seis meses anteriores. Dessa vez, essa mordida deve ser de R$ 8 bilhões, possivelmente alcançando uma marca histórica, conforme estimativa de Marcelo d’Agosto, consultor financeiro e colunista do Valor Investe e da CBN.
O valor estimado de imposto que o governo federal deve arrecadar é mais que o dobro do observado em maio do ano passado e 41,5% acima do registrado em novembro de 2021. A fatia maior da abocanhada acontece, especialmente, porque o patrimônio líquido dos fundos de investimentos praticamente dobrou, passando de R$ 4 trilhões para R$ 7 trilhões.
Além disso, o maior nível dos juros básicos do país, que impulsiona naturalmente os ganhos das aplicações, também tem importante papel no aumento da arrecadação do come-cotas. “Como os juros aumentaram e o patrimônio líquido dos fundos subiu, o come-cotas pode ser recorde”, diz o consultor financeiro.
Em novembro do ano passado, a Selic estava em 7,75% ao ano e passou para 12,75%. Foi um aumento de 5 pontos percentuais na taxa de juros que é usada como referência para rendimentos de renda fixa, o que já é um “anabolizante” e tanto para os fundos que, em geral, buscam entregar resultados acima desse patamar para os investidores.
Para se ter uma ideia ainda mais clara, a variação do CDI (Certificado de Depósitos Interbancário) foi de 5% nos últimos seis meses. “A última vez que os juros – em um período de seis meses de come-cotas – tinha sido tão alto foi entre dezembro de 2016 e maio de 2017, quando foi de 5,98%“, diz o Marcelo d’Agosto. A variação do CDI é praticamente a mesma da taxa Selic.
d’Agosto lembra que a rentabilidade dos fundos de investimentos não é afetada apenas pelo CDI. O IMA-B, por exemplo, que é um índice que mede o desempenho de uma carteira teórica de títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA), teve variação de 4,90% nos últimos seis meses.
A rentabilidade média do fundos multimercados nos últimos seis meses, conforme indica o Índice de Hedge Fund da Anbima (IHFA), foi de 9,59%. Como os fundos cambiais também pagam o “pedágio” do come-cotas, a variação cambial também é importante. Nessa caso, a variação do câmbio foi negativa, de 15,6% nos últimos seis meses.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe