4E RADAR JUN/2022
Cenário Internacional
EUA – Na taxa anualizada livre de influências sazonais, o PIB do 1º tri de 2022 contraiu-se 1,4%, ante a um crescimento de 6,9% no último trimestre de 2021.
O encolhimento foi impulsionado por quedas na reposição de estoques (-0,8 p.p.), na exportação líquida de bens e serviços (-3,2 p.p.) e nos gastos do governo (-0,5 p,p,). Já os gastos com consumo e investimento fixo saltaram 2,7% e 2,3%, respectivamente.
UE – No bloco europeu o PIB da Área do Euro cresceu 0,3% no primeiro trimestre – ante a um avanço de 0,2% no primeiro cálculo lançado em abril.
O PIB da União Europeia – grupo que engloba países fora da coalização monetária – dilatou-se 0,4%. O resultado coloca o produto do bloco em um nível 5,1% (5,2%) superior ao verificado no primeiro trimestre de 2021.
Cenário Político
Bolsonaro e seu governo
Bolsonaro esteve na Cúpula das Américas em Los Angeles e teve conversa bilateral com o presidente norte-americano Joe Biden. Em evento reservado, de acordo com o site da Bloomberg, o mandatário brasileiro teria pedido ajuda para derrotar Lula no pleito de outubro, pois a vitória do petista contrariaria interesses dos Estados Unidos nas relações com o Brasil. Bolsonaro nega que tenha feito tal pedido, e destaca-se: na derrota de Trump para Biden, o presidente brasileiro questionou a vitória democrata e o processo eleitoral americano, ideia reforçada às vésperas do encontro.
Em meio às investigações associadas às mortes do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, Bolsonaro deu declarações que voltaram a gerar polêmicas. Afirmou que o inglês não era bem visto na região, que ambos partiram para uma aventura e não cuidaram das próprias vidas. As afirmações causaram revolta em alguns setores da sociedade. Autoridades internacionais acusam as forças armadas e o governo brasileiro de terem demorado para agir. O governo brasileiro rebate dizendo que mobilizou recursos materiais e humanos nas buscas.
O ministro Paulo Guedes declarou que não faz sentido algum relacionar qualquer fala do Planalto a tabelamento de preços. Ademais, admitindo que Estados Unidos e Europa entrarão em recessão, disse que vê o Brasil decolando novamente. Por fim, tanto ele quanto Bolsonaro afirmaram que o país é o responsável pelo mundo não estar passando fome. Faz poucos dias, no entanto, relatório da Rede PENSSAN mostra que a fome no país cresceu e atinge mais de 33 milhões de pessoas.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, enfrenta acusações de que seu filho de 23 anos, estudante de medicina e pré-candidato a deputado federal pelo PL da Paraíba, intermediá encontros na pasta com prefeitos do estado, trafica influência, participa de inaugurações públicas e se aproveita da máquina federal para alavancar-se.
PIB
Revisamos nossa projeção para o PIB de 2022 de 0,9% para 1,4%, em resposta ao panorama doméstico mais favorável e de 1,4% para 0,9% em 2023 devido à deterioração do cenário internacional.
A produção industrial cresceu pelo terceiro mês consecutivo, tendo variado 0,1% em abril – na série livre de influências sazonais. Julgamos que ainda é cedo para avaliações mais otimistas. Consideramos que a disseminação dos efeitos da política monetária contracionista a partir do segundo semestre tende a limitar a capacidade de recuperação do fabrico de bens duráveis – segmento com peso na indústria nacional -, e novas rodadas de investimento.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) avançou, terminando maio em 99,7 pontos na série com ajuste sazonal. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 3,1 pontos no mesmo período, alcançando 75,5 – também para os valores livres de influências sazonais.
PIB Regional
O resultado do PIB Regional no trimestre móvel finalizado em fevereiro/2022 – considerando a série dessazonalizada – trouxe destaques positivos para 18 Ufs.
Na ponta positiva, a região Centro-Oeste obteve destaque diante das restantes, ao apresentar um crescimento de 3,3%. Tal movimento é explicado, em grande medida, pelo forte desempenho da Agropecuária (5,2%), somado a resultados positivos no setor de Serviços e Indústria.
A região Norte apresentou crescimento de 1,6% no período, com destaque para a recuperação da Indústria de Transformação amazonense (6,6%).
Com significativa alta na Agropecuária (2,6%), o Sudeste foi a segunda região a apresentar o maior crescimento (1,1%) neste trimestre móvel.
A região Sul (-1,3%) foi a única que apresentou retração da sua atividade econômica durante o período avaliado.
Mercado de Trabalho
A taxa de desocupação encerrou o trimestre móvel finalizado em abril em 10,5% – uma queda de 0,7 p.p. ante o período anterior, e significativamente abaixo da mediana das expectativas coletadas pela Agência Estado, estimada em 11,0%.
Prospectivamente, diante do processo de retomada econômica e normalização das condições sanitárias, esperamos que a taxa de desocupação permaneça relativamente estável ao longo do ano, repercutindo o bom momento do mercado de trabalho, marcado pela recuperação de serviços e recomposição de trabalhadores à PEA.
O CAGED reportou, em abril, a abertura líquida de 196 mil postos, efeito de cerca de 1,8 milhões de admissões e 1,6 milhões de demissões. A série com ajuste sazonal indica crescimento do mercado formal de trabalho no período, com a geração de quase 225 mil vagas, ante a 219 mil no mês imediatamente anterior.
Inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,47% em maio, arrefecendo significativamente frente a alta de 1,06% no mês anterior.
Consideramos positivo o resultado do IPCA em maio, e conservamos a posição de que o pico do indicador, em doze meses, foi o verificado em abril (12,13%). Julgamos que os próximos meses tendem a ser palco de uma manutenção no arrefecimento do valor de importantes alimentos consumidos pelas famílias.
O IGP-M recuou para 0,52% em maio, ante a elevação de 1,41% verificada em abril.
Acreditamos que no curto e médio prazo, o IGP-M tende a manter uma trajetória de arrefecimento, refletindo a dissipação dos efeitos sazonais sobre os preços dos alimentos in natura e as perspectivas de redução no valor de importantes commodities.
Política Monetária
Em sua reunião de junho, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros para 13,25% ao ano.
Prospectivamente, esperamos nova alta de 0,25 p. p. na próxima reunião, de forma que a taxa Selic encerre o ciclo em 13,50% ao ano.
Em relação ao cenário internacional, o Comitê avalia que o ambiente seguiu se deteriorando em virtude das revisões negativas no tocante ao
crescimento mundial. Além disso, o aperto das condições financeiras em decorrência da reprecificação da política monetária nos países desenvolvidos ampliou a incerteza e a volatilidade, particularmente nas economias emergentes.
Domesticamente, o Comitê julga que a inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente e avalia que as medidas tributárias
em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de
política monetária.
Política Fiscal
Em abril, o setor público consolidado reportou um superávit primário de R$ 38,9 bilhões. Com o resultado, o setor público acumulou um superávit na ordem de 1,5% do PIB nos doze meses encerrados no terceiro mês de 2022.
A dívida líquida do setor público em relação ao PIB, por sua vez, encerrou abril em 57,9% do PIB, valor equivalente a R$ 5,2 trilhões. Já a dívida bruta do governo geral fechou o mês em 78,3%.
Por fim, os entes regionais encontram-se mais preparados para lidar com os efeitos do Projeto de Lei Complementar 18/2022, em função do regime mais austero adotado após os momentos mais duros da pandemia. O período foi marcado por uma contenção robusta das despesas,
sobretudo as associadas à remuneração dos servidores.
Taxa de Câmbio
O Real encerrou 2021 em patamares historicamente depreciados – que não respondiam aos fundamentos de médio e longo prazo – mantidos por um cenário político incerto, apesar de um quadro fiscal conjunturalmente bom. Nos primeiros meses de 2022, a moeda brasileira recobrou parte do seu valor, refletindo o diferencial de juros ante as economias desenvolvidas.
Esperamos que a moeda brasileira espelhe, ainda este ano, o risco eleitoral. Com o encerramento do pleito, acreditamos que o Real recobre sua trajetória de apreciação ao final do ano.
Para o médio e longo prazo, antevemos um real relativamente estável em um patamar historicamente depreciado, embora em menor nível ante ao biênio 2020/2021. Esperamos que o movimento reflita um pior quadro fiscal e seja contrabalanceado, ao mesmo tempo, pelo diferencial entre os juros brasileiro e norte-americano.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: 4E Consultoria