4intelligence: Cenário em 2023
Cenário em 2023 será mais desafiador
Diante das sinalizações negativas do novo governo no âmbito fiscal, revisamos nossas projeções para 2023. Julgamos que a tendência, no curtíssimo prazo, é de que o balanço fiscal conjunturalmente positivo não se sustente, em função dos gastos contratados para este ano, do arrefecimento da inflação e de uma menor arrecadação, tanto no âmbito federal quanto nos estados – reflexo de um menor crescimento econômico, inclusive. Se faz necessário, dessa forma, um esforço ativo para a manutenção do quadro, com a contenção de despesas, busca de novas fontes de receita e aperfeiçoamento da capacidade arrecadatória. A primeira semana do governo Lula III foi repleta, no entanto, de sinalizações na direção contrária.
Uma delas foi a extensão da desoneração de tributos federais sobre combustíveis. Originalmente prevista até 31 de dezembro de 2022, a isenção foi estendida até o final do ano para diesel, biodiesel gás liquefeito. Para álcool e gasolina, a desoneração valerá até o fim de fevereiro – e, em ambos os casos, há a possibilidade de renovação até o fim do ano. A indicação, com a manutenção da desoneração, é de que o novo governo está disposto a abrir mão da arrecadação por razões políticas e que, apesar de Fernando Haddad ter citado o compromisso do novo governo com a boa operação fiscal, outras falas do ministro e sua equipe levantam dúvidas sobre seus reais objetivos e compromissos. Em segundo lugar, a aprovação da Emenda Constitucional nº 126/2022, que
permitirá gastos extrateto de até R$ 170 bilhões em 2023 – em ordem muito superior a necessária para a manutenção do Bolsa Família de R$ 600 e do adicional de R$ 150 por filho, que exigiriam cerca de R$ 75 bilhões para operação neste ano.
Diante disso, no nosso novo cenário, a dívida bruta retomará trajetória de expansão em 2023 e encerrará o ano em 81,5% do PIB, ascendendo a patamares superiores a 90% do PIB em 2026, corolário do acúmulo de sucessivos resultados primários negativos a partir deste ano. No que tange ao resultado primário, esperamos que o setor público volte a acumular déficits primários consecutivos a partir do ano corrente (2,2% do PIB em 2023) e que contas voltem ao equilíbrio apenas em 2027.
De qualquer forma, a leitura é que o afrouxamento das Produto Interno Bruto contas públicas exigirá uma taxa de juros mais elevada neste horizonte. Se antes antecipávamos que os primeiros cortes ocorreriam em meados do ano, passamos a esperar que os juros básicos voltem a cair apenas em outubro e que a Selic encerre o ano em 12,25%, mas em trajetória descendente. Ainda em função dos desdobramentos fiscais, alteramos nossa projeção de câmbio, que deverá encerrar 2023 em R$ 5,35/US$.
Por fim, em relação à atividade econômica, mantivemos inalterada nossa projeção de crescimento do PIB em 2023, de 0,7%. Contudo, em função do cenário mais desafiador, reduzimos nossas projeções para 2024 e 2025, para 1,5% e 1,8%, respectivamente.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: 4intelligence