Com a pandemia, retorno de fundo imobiliário do ramo funerário se destaca
Um fundo imobiliário do ramo de cemitérios apresentou rentabilidade de 19,15% em 2021 até o momento, a quinta maior valorização na B3. Com o aumento da demanda por serviços funerários em meio à pandemia, os resultados das empresas investidas foram impactados positivamente
Um fundo imobiliário de um segmento ainda pouco explorado pelo setor privado no Brasil, do ramo de cemitérios, apresentou rentabilidade de 19,15% em 2021 até o momento, a quinta maior valorização na B3. Com o aumento da demanda por serviços funerários em meio à pandemia, os resultados das empresas investidas foram impactados positivamente.
O fundo CARE11, da gestora Zion Invest, é considerado pioneiro no Brasil. Uma das investidas, a gaúcha Cortel, planejava um IPO para 2021, mas os planos foram postergados para 2022. A ideia era levantar R$ 400 milhões.
A Zion Invest considera que esse mercado ainda é pouco explorado no Brasil. Durante muito tempo, os cemitérios eram administrados pelas prefeituras ou entidades filantrópicas ou religiosas. Hoje, cerca de 50% já possuem administração privada, ainda essencialmente familiar.
“Existe potencial de crescimento do setor, que atualmente não é profissionalizado. Vimos, na pandemia, regiões no Brasil que não deram conta dos sepultamentos”, disse o gestor da Zion, João Eduardo Santiago.
Enquanto nos EUA o negócio já é consolidado, localmente ainda é visto como um tabu, segundo ele. A maior empresa americana do setor, a Service Corporation International (SCI), administra 1.461 funerárias e 484 cemitérios.
Um pouco cemitério, um pouco shopping center
“Enxergamos que o mercado [local] tem dificuldades de precificar estes ativos. Não se trata de um ativo imobiliário estático”, disse Santiago. Há características, por exemplo, de shopping centers, por envolver contratos de cessão de uso [pelas prefeituras].
Também há semelhanças com seguros. Uma pessoa que contrata um plano funerário, por exemplo, o faz pela necessidade, mas a expectativa é que não o utilize, pelo menos no curto prazo.
Em abril, o fundo teve retorno de 39,24%, em um momento em que a segunda onda da covid-19 rumava a seu pico. Já em maio, até ontem, tinha alta de 10,92%. Além da demanda maior por sepultamentos, foi percebido também a intenção das pessoas de regularizarem planos funerários em atraso. A venda de novos planos, no entanto, teve impacto negativo, já que as operações são essencialmente presenciais.
O CARE 11, de acordo com Santiago, funciona como uma espécie de private equity. As investidas são empresas de capital fechado que administram cemitérios. Atualmente são nove ativos, em diferentes estágios e localizados no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Amazonas, Goiás e São Paulo, por exemplo.
O ativo mais maduro é a Cortel, que tem origem no Rio Grande do Sul e se preparava para fazer um IPO estimado em R$ 400 milhões, entre ofertas primária e secundária. O pedido da emissão, que seria coordenada pela XP, chegou a ser protocolado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas foi suspenso pelas condições adversas do mercado financeiro.
Enquanto a oferta de ações não sai — a expectativa é que seja realizada em 2022 —, a empresa vai focar em aquisições. Segundo o presidente do conselho da Cortel, José Elias Flores, a ideia é fazer cinco operações ao longo de 2021.
A Cortel atualmente administra dez cemitérios e seis crematórios — sendo um deles para animais de estimação —, além da empresa funerária e dos planos funerários. “Teremos uma musculatura maior. As transações estavam alinhavadas, mas interrompemos por causa do IPO. Chegamos à conclusão de que era melhor interromper, fortalecer nossa posição e mostrar que a tese é viável”, diz Flores.
Um dos focos é a cidade de São Paulo. Há a expectativa de uma licitação para a concessão, por 35 anos, dos serviços de gestão, operação, manutenção, exploração, revitalização e expansão dos 22 cemitérios e crematórios públicos, além da prestação de serviços funerários na capital.
Fonte: Valor Investe
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