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Até onde vai a Selic agora, após a décima alta? Veja as expectativas do mercado

Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) subiu nesta quarta-feira (4) a meta para a taxa básica de juros (Selic) em mais 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano, mesma dose aplicada na reunião anterior. A decisão era amplamente esperada pelo mercado, após o próprio comitê ter sinalizado isso aos investidores 42 dias atrás. No comunicado, o Copom tirou uma dúvida do mercado e indicou que o clico de alta na Selic vai continuar na próxima reunião, mas que o ritmo de elevação será em magnitude menor. A Selic alcança assim seu nível mais alto desde o início de 2017.

Parcitas

economista-chefe da Parcitas Investimentos, Vitor Martello, afirma que o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) traz um reconhecimento, por parte da autarquia, de que as pressões inflacionárias persistiram mais do que o previsto, o que fez com que houvesse mudança na comunicação em relação à reunião de março.

“Na minha visão, o comunicado de hoje foi uma forma do Copom mostrar que o patamar de 13,25% será um piso para a Selic neste final de ciclo de aperto monetário. A piora nas projeções de inflação por parte do BC só calibraram a resistência da inflação, o que justifica a mudança no plano de voo”, aponta.

Para o profissional, parte da sensação de dúvida expressa no comunicado vem justamente de fatores que não estão no controle do Copom, como os lockdowns na China, a guerra entre Ucrânia e Rússia e a política de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o BC americano). E, por isso, torna-se difícil a utilização de sinalizações muito diretas.

Martello cita ainda que o BC local “ressuscitou” o risco baixista para a atividade doméstica, algo que não parece claro em indicadores de alta frequência. “Podem estar preparando terreno para uma possível desaceleração no segundo semestre, mesmo que haja resiliência até agora”, aponta.

A projeção da Parcitas, que tinha a Selic terminal em 13,25%, pode então ser alterada. Segundo o economista, será preciso acrescentar dados de cadeias produtivas globais à conta, conforme os gargalos iniciados na China se estendem. “O BC precisa se preocupar com estes choques.”

Armor

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, considerou o comunicado adequado. Segundo a profissional, o texto deixa uma porta aberta para que o BC encerre o ciclo de aperto monetário na próxima reunião, mas também coloca mais cautela em cima da atuação da autarquia.

“Acredito que o BC fez uma comunicação até mais direta em termos de fim de ciclo no comunicado de março e agora deixou esse ajuste final mais em aberto”, aponta. “Continuo, no entanto, enxergando espaço para que o Comitê realize duas altas de 50 pontos-base nas próximas reuniões, chegando a uma Selic terminal de 13,75%.” Assim, a casa mantém o cenário que tinha pré-Copom.

Para a profissional, a persistência da inflação pode voltar a surpreender o BC, promovendo nova atualização de modelos. Damico explica que o fato do comunicado contratar uma Selic de pelo menos 13.25% sem que a meta de inflação para 2023 seja alcançada (3,4% da projeção ante 3,25% da meta) mostra que há espaço para isso.

“Além disso, os núcleos de inflação seguem muito altos e disseminados, o que faz com que a projeção de inflação do BC de 7,3% para 2022 pareça baixa à luz do mercado, que está mais próximo dos 8%. Essa foi a parte “menos dura” do comunicado. A autarquia compensa isso, no entanto, com uma descrição mais detalhada do balanço de riscos, citando o arcabouço fiscal e pressões inflacionárias externas.”

AZ Quest

O Banco Central anunciou que deve estender o seu ciclo de alta de juros, mas não se comprometeu de maneira firme com seu próximo passo, o que conferiu à instituição maior grau de liberdade para sua próxima decisão. Ainda que, nas contas da economista da AZ Quest, Mirella Hirakawa, a probabilidade de uma nova alta de juros seja superior a 70%, o Copom deixou uma porta aberta para a reunião após junho, o que é apropriado nesse estágio final do ciclo.

Após a decisão de política monetária do Banco Central, a AZ Quest, revisou suas projeções para a Selic terminal de 12,75% para 13,25% ao fim do ciclo.

“Por meio das projeções de inflação, o Copom está falando que olha com atenção a inflação acima da meta em 2023. Possivelmente, pode precisar dar um pouco mais de juros do que está no Focus. Isso pode ser feito por meio de uma taxa mais alta, ou por uma taxa de juros alta por mais tempo. E essa estratégia ele pode calibrar com o passar do tempo”, afirma a economista.

Segundo Mirella, o balanço de riscos do Copom passou a ser mais equilibrado agora, com os membros incluindo, de maneira mais clara, as preocupações com a atividade econômica. “Agora tem um fator para o lado dovish, que seria a preocupação com a atividade, além da reversão dos preços de commodities. O balanço de riscos fica mais equilibrado e há um grau maior de incerteza. Por isso, sinaliza que precisa manter a porta aberta.”

A economista pontua ainda que o Banco Central indicou que precisa ter cautela no momento atual, porque já estamos em um estágio avançado do ciclo e porque os impactos da política monetária são defasados. Ainda vamos colher esses impactos contracionistas”, afirma. Nas projeções da AZ Quest, o auge dos efeitos da política monetária na economia devem ocorrer entre o fim de 2022 e começo de 2023.

Credit Suisse

Embora o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tenha deixado para trás o cenário de interrupção do ciclo de aperto na reunião de ontem, a indicação de que uma alta na Selic em junho é “provável” foi um movimento “mais brando do que nossa expectativa, pois deixa em aberto a possibilidade de não implementar um aumento em junho”, observam os economistas do Credit Suisse em relatório. O banco suíço, porém, manteve inalterado o seu cenário, com alta de 0,75 ponto em junho e aumento final de 0,5 ponto em agosto, com a taxa em 14% no fim do ciclo.

“Acreditamos que o cenário para a inflação continuará se deteriorando mais do que a projeção do Banco Central e a mediana das expectativas do mercado e que, com isso, a autoridade monetária precisará continuar aumentando os juros nas próximas reuniões”, afirmam os economistas Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho. Além disso, o Credit Suisse acredita, agora, que um ciclo de redução da Selic pode ter início somente em maio, e não em fevereiro. O banco projeta a taxa em 9,5% no fim de 2023.

“Recentemente, revisamos nossa projeção de inflação para 2023 para 4,6%, nível próximo ao limite superior da meta de inflação, de 4,75%, reconhecendo que os riscos estavam inclinados para cima”, dizem os economistas. Eles notam que os choques globais podem ter impacto indireto mais forte sobre a inflação no próximo ano “e o provável aumento das expectativas inflacionárias pode piorar o processo de desinflação”. Para eles, caso o BC interrompa o ciclo de aperto monetário mais cedo do que o esperado (14%), “esperaríamos uma probabilidade maior de um cenário em que a taxa Selic seja mais alta no próximo ano”.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe

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