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Após 33 anos, índice DAX muda regras e busca composição alinhada à moderna economia alemã

Em meio a uma sociedade e um cenário econômico totalmente diverso daqueles de seu surgimento, o índice ganhará agora novos membros e mudará suas regras hoje, com vigência prevista no fim de setembro

Mais de 33 anos se passaram desde a criação do índice alemão DAX. De lá para cá, a queda do muro de Berlim uniu duas economias totalmente distintas, empresas dominantes perderam a hegemonia e startups surgiram e ganharam espaço no mercado de capitais.

Em meio a uma sociedade e um cenário econômico totalmente diverso daqueles de seu surgimento, o índice ganhará agora novos membros e mudará suas regras hoje, com vigência prevista no fim de setembro.

Chefes de investimento de grandes bancos alemães explicaram ao Valor o que significam essas mudanças, a razão delas neste momento, e ainda apontaram quais devem ser os nomes que entrarão no rol das empresas mais importantes da Deutsche Börse, a bolsa alemã.

“Há dois motivos para essas mudanças: um deles é que outros índices europeus têm mais representatividade no valor das empresas em seus índices, até pelo número de integrantes. Por exemplo, o francês possui 40 empresas, o índice de Londres chega a 100, o espanhol, a 35. E há também a tentativa de evitar escândalos como o do Wirecard, que foi muito negativo para o administrador do índice”, afirma Christian Kahler, chefe de investimentos estratégicos do DZ Bank.

A Wirecard, que integrava o DAX desde 2018 e chegou a valer 24 bilhões de euros, se despedaçou em 2020 devido a fraudes contábeis. A companhia teria inflado suas contas com fundos fictícios nas Filipinas, em algo em torno de 1,9 bilhões de euros.

À época em que o escândalo explodiu, em junho, a companhia não pode ser retirada imediatamente do índice porque ainda preenchia os dois requisitos básicos: estava entre as 40 maiores empresas, tanto em volume de negociações quanto em valor de mercado. Caso não conseguisse preencher algum desses requisitos, a empresa até poderia ser retirada, mas só na troca regular anual, em setembro. Havia uma forma de ser substituída mais rapidamente, caso caísse para baixo da posição 45 nesses dois requisitos. E não bastava isso, era preciso que sua substituta conseguisse chegar ao menos na posição 35 do ranking em ambas as classificações.

“Agora haverá apenas um critério para o posicionamento no ranking, que é a capitalização de mercado [o valor total de todas ações da empresa]”, explica Chris-Oliver Schickentanz, diretor-executivo de investimentos (CIO) do Commerzbank. “É claro que o caso Wirecard se reflete nessas novas regras, porque além desse novo formato de escolha, há algumas melhorias qualitativas.

“Os avanços qualitativos a que se refere o chefe de investimentos do Commerzbank são a verificação regular bianual das empresas, em março e setembro (antes ocorria só em setembro), a obrigação de publicar os relatórios trimestrais e anuais auditados sem atraso, e a necessidade de a empresa ter tido, nos últimos dois anos, um Ebitda positivo”, diz Schickentanz. “Com essa garantia de operação com ganhos nos últimos anos, os investidores terão mais estabilidade.”

O critério que traz mais estabilidade, porém, é também o responsável por deixar a atual favorita dos investidores alemães fora do novo índice DAX. A BioNTech, startup parceira da Pfizer no desenvolvimento da vacina contra a covid-19, mesmo preenchendo outros requisitos, não teve um Ebitda positivo nos últimos dois anos. Para o CIO do DZ Bank, isso ainda precisa ser aperfeiçoado pelos gestores do índice. “É um ponto crítico que precisa ser trabalhado mais no futuro para aumentar a atratividade da bolsa alemã”.

Ulrich Stephan, diretor-executivo de investimentos do Deutsche Bank, diz, por outro lado, que “assim que a BioNTech atender os critérios melhor do que outras empresas, a companhia será incluída no DAX-40″, afirma. Stephan diz que as novas regras já permitem ao DAX um aumento em sua diversificação e que isso, sim, deverá levar a maior liquidez do mercado.

“O peso da indústria aumentará quatro pontos percentuais, enquanto o setor financeiro e o de tecnologia cederão dois pontos cada um. Essa melhor representação da indústria alemã deverá gerar um maior interesse dos investidores institucionais”, diz o executivo.”

A empresa que encabeça a lista de candidatas para entrar no índice é a aeroespacial europeia Airbus, segundo um ranking apresentado pelo JP Morgan.

Com um valor de mercado próximo de US$ 1,78 bilhão, a companhia deve assumir um lugar no topo do índice, entre as primeiras dez grandes empresas. Aparece também a plataforma Zalando, a versão alemã da Amazon voltada para o ecommerce de moda. A companhia, fundada em 2008 por Robert Gentz em Berlim, cresceu durante a pandemia e hoje tem valor de mercado próximo a US$ 477 milhões.

A startup de entregas de kit de alimentos HelloFresh é outra candidata que ganhou força com o coronavírus. A empresa, que viu suas ações decolarem no último ano com a crescente busca por entregas de comida em casa, é avaliada em US$ 282 milhões.

Há ainda nomes mais familiarizados ao público brasileiro como a Porsche, com valor de mercado de US$ 228 milhões, a Puma, avaliada em US$ 200 milhões, e a produtora de sabores e fragrâncias Symrise, valendo algo em torno de US$ 261 milhões.

“Ainda vamos ter a participação de empresas que retratam a economia mais tradicional alemã, como do setor automobilístico e do químico, mas devemos ter agora a entrada de companhias de outros ramos, como ocorre com a Zalando e a HelloFresh”, diz Gerrit Fey, chefe de mercados de capitais do Deutsches Aktieninstitut, entidade que representa empresas de capital aberto e investidores. “Ganham espaço agora empresas que cresceram rápido nos últimos anos, de ramos que se beneficiaram na pandemia, como do setor de medicina e empresas de delivery. Ao meu ver isso é bom para a imagem do índice”, avalia Kahler, do DZ Bank.

 

Fonte: Valor Investe

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