PUBLICAÇÕES

BLOG

Criação de moeda digital pelo BC seria negativa para bancos, diz Moody’s

28 de June de 2021

Criação de moeda digital pelo BC seria negativa para bancos, diz Moody’s

20/05/2021

O Banco Central afirmou esta semana que pretende que o real digital seja emitido apenas pela própria autoridade monetária

A Moody’s afirmou que a criação de uma moeda digital pelo Banco Central seria negativa para os bancos brasileiros. Segundo a agência de rating, a nova moeda poderia ser usada pelos clientes como uma espécie de depósito, afetando uma das principais fontes de funding dos bancos.

“A moeda digital do BC afetaria o setor bancário diretamente de várias maneiras. Depositantes de varejo podem considerar que esse ativo oferece um instrumento semelhante a um depósito, sem risco, com a proteção direta do banco central, e migrar parte de seus depósitos para essa moeda. Embora não seja criada para competir diretamente com os depósitos bancários, haveria inevitavelmente um aumento na competição por depósitos – principal fonte de financiamento dos bancos – e custos de financiamento mais elevados”, diz a Moody’s.

O BC afirmou esta semana que pretende que o real digital seja emitido apenas pela própria autoridade monetária, tenha custódia das instituições financeiras e nenhum tipo de remuneração. A autoridade monetária divulgou algumas das diretrizes que balizarão a implantação da moeda virtual, mas ponderou essa é uma avaliação “preliminar” e que o tema será debatido, nos próximos meses, em uma série de seminários com agentes do mercado.

Segundo a agência de rating, o principal desafio para o BC seria minimizar qualquer possível problema de financiamento que poderia ocorrer, para garantir que o fornecimento de crédito não seja colocado em risco enquanto o Brasil se recupera do declínio econômico relacionado à pandemia de coronavírus. O BC disse explicitamente que a moeda digital não renderá juros.

A Moody’s aponta que nos últimos anos os bancos brasileiros têm reagido às baixas taxas de juros e à criação de novas opções aos depósitos pelas plataformas de arquitetura aberta, ao oferecer taxas mais altas nos CDIs. Essa forma de depósito a prazo cresceu em média 21% ao ano entre 2016-2020 e agora representa 39% do funding total dos bancos. Enquanto isso, o custo dos depósitos como percentual do CDI aumentou para cerca de 100%, de 60% em 2016.

“Acreditamos que os bancos continuarão a pagar um maior porcentual do CDI do que a média histórica, e a chegada da moeda digital do BC reforçaria essa tendência”, diz o relatório.

Segundo a Moody’s, as moedas digitais provavelmente serão mantidas em carteiras digitais oferecidas pelos bancos e fintechs, além de possivelmente um app controlado pelo BC. A moeda digital estaria disponível para transferências entre pessoas e para pagamentos a comerciantes, desintermediando e criando concorrência para os formatos de pagamento existentes.

Para emissores de cartão de crédito, adquirentes e instituições de pagamento, que atualmente ganham receitas de tarifas de processamento de pagamentos no Brasil, a moeda digital exacerbaria a pressão negativa já existente, especialmente após a implementação do sistema de pagamentos instantâneos Pix. A Moody’ aponta que ainda não está claro se a construção tecnológica da moeda digital será compatível com o Pix ou se seria um sistema de pagamento alternativo aos existentes, o que potencialmente criaria maior disrupção e desintermediação.

Ao mesmo tempo, a criação da moeda digital pode trazer alguns aspectos positivos. Um declínio no uso de dinheiro físico pelos brasileiros reduziria os custos geralmente elevados de segurança bancária e transporte de numerário, auxiliando na eficiência dos bancos e reduzindo o risco operacional, diz a Moody’s.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe

Back